Por Victor Coelho
No livro Veneno Remédio: o futebol e o Brasil, José
M. Wisnik destaca a ideia de que o futebol se distinguiria de outros esportes
coletivos (como basquete ou vôlei) por conta da maior dinâmica do jogo: jogadas
mais imprevisíveis (comparar com as jogadas do vôlei, onde se destaca mais a
eficiência na execução de jogadas-modelo), não limitadas pelo tempo máximo de
conclusão de jogada de ataque (como é no basquete). Somente o futebol permite
mais que simplesmente dizer como foi a eficiência dos times ou sobre quem fez
muitas cestas de três ou a enterrada mais brutal: o futebol permite que se
conte histórias sobre o jogo, onde uma análise pode se configurar numa crônica,
por exemplo.
No caso do último jogo do Galo, vitória de 1 x 0 sobre o Corinthians pela segunda rodada do Brasileirão de 2012, o gol de Danilinho
me lembrou da imprevisibilidade, de uma maneira que me fez
pensar também, novamente, no futebol como um tipo de arte, sem cair no clichê
do “futebol arte x futebol feio” (falsa polarização pois defender em bloco
também é um tipo de arte tanto quanto um drible fenomenal).
O jogo era bastante disputado, o Corinthians – time encardido
pelo entrosamento e pela moral de ser o atual campeão brasileiro e
semifinalista da Libertadores – considerado favorito mesmo jogando contra o
campeão mineiro invicto, na casa do adversário. O Corinthians não conseguia
impor o domínio do jogo, mas chegava com mais perigo. Jogo tenso e bastante
disputado, com defesas levando vantagem sobre os ataques. Tudo poderia
acontecer.
E algo aconteceu. O time do Galo foi para o ataque,
a bola no campo do Corinthians, até que chega aos pés do zagueiro Réver, que vê
o baixinho Danilinho se livrando da marcação, na entrada da área. Como autêntico armador - que o time carece - faz passe de
categoria, pelo alto, pegando a defesa do Corinthians desprevenida, incluindo o
goleiro Cássio, de quase dois metros de altura.
Enquanto a bola percorria sua trajetória pelo ar,
expectativa. O que faria Danilinho? Tentaria dominar a bola com o peito para
depois tentar o chute, quando certamente daria tempo de o(s) zagueiro(s) ou o
goleiro chegarem na marcação? Tentaria tocar de cabeça para um companheiro?
Chutar para o gol de primeira seria muito difícil por conta da trajetória da
bola, ao mesmo tempo descendente e alta, o que por sua vez, além de impossibilitar o chute de
primeira, também impedia uma cabeçada firme. A expectativa naqueles longos segundos era
aumentada pela dúvida pela posição do meia-atacante: estaria impedido?
Então o inesperado. Danilinho
tranquilamente espera a conclusão do passe, observando a bola. Afasta-se para
trás para que sua posição corresponda com a trajetória da bola. Mental e instintivamente
calcula sua (da bola) velocidade, peso, sua distância (a dele próprio) com
relação ao gol. Então, quando a bola chega, uma leve cabeçada, e apesar da pouca distância entre jogador e gol, a bola sobe de
novo ao ar e encobre o gigante Cássio, que apenas observa, semiagaixado,
estupefado e rendido, a bola fazer o caminho descendente para encontrar a rede. Delírio da Massa.
Naquela pequena fração de tempo, Danilinho, que
ainda apresentava um futebol aquém do que se espera dele, tornou-se um gigante
pelo autodomínio, confiança, foi manipulador das leis da física, senhor da
matéria de seu corpo e da bola, foi o gênio criador, ponto metafísico naquele
microcosmo formado por arquibancadas, gramado, traves, por corpos e mentes na disputa entre dois times. Provou que o futebol é uma maravilha, apesar do esforço que fazem para
estragá-lo.
GAAAAALOOOOOOO!!!!
ResponderExcluirAquele gol foi uma delííííícia!!!
E provou duas coisas: O Rever realmente pode ser um grande jogador, de seleção inclusive, só precisa "baixar a bola" um pouco, he he, mas pode continuar dando aqueles lindos passes!
E Danilinho, sabemos que não é uma Brastemp, mas é decisivo e tem personalidade pacas! Joga mal jogos inteiros, mas não é de por a mão na cintura e não baixa a cabeça pra ninguém (recentemente declarou que não está nem aí pro que comentaristas de TV falam sobre ele...)
Abraços para Doctor Victor,
Lucas Jorio
Caro amigo e companheiro de boteco, incluindo boteco com jogo do Galo hehe
ExcluirVerdade, Réver é excepcional e acho que não cometerá mais momentos lamentáveis como aquele que resultou no terceiro gol do time maria ano passado. Concordo sobre o Danilinho, fora que, como você comentou comigo durante o jogo, ele joga com dedicação ao time, ajuda na marcação e no jogo contra a Ponte ele ajudou a liberar o ataque caindo pela direita e puxando marcação. Mas seria bom ele voltar a ser também aquele bom construtor de jogadas de ataque e finalizador, como foi nesse lance do gol.
E o mais importante é mesmo a atitude do time que voltou a ser a de no mínimo honrar a camisa, tendo postura de time grande que o CAM precisa voltar a ser.
abraço
PS: e ce viu que citei o livro que você me deu de presente, né, hehe
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