segunda-feira, 28 de maio de 2012

Moeda em pé - São Paulo 1 x 0 Bahia, estupenda contenda



Por Fernando Amaral, vulgo Quodores


As vezes - quase sempre, na verdade - o jogo no campo é a parte mais cacete do futebol. Mais chata, para resumir a parlenda. E esta frase não é minha, é do querido Demétrius Cruz, amigo doutro blogue que escrevo sobre futebol e comparsa na vida.

Digo isso porque o futebol é aquele trem bem mais complexo, que nem tese de doutorado, pós doutorado e o escambau a quatro pode definir. Sim, há idiotas de todas as matizes querendo o óbvio, que é reduzir a brincadeira ao que rola no campo, com simples frivolidade, como algo importante dentre as cousas desimportantes. Se ofendi, perdão. Aos idiotas, o meu perdão.
O ludopédio, a brincadeira, o futebol é a tampa da mesa de ferro do boteco da esquina. Ou do boteco na faculdade, no boteco da beira da praia, no boteco de qualquer confim do mundo. É o campo de botão, seja o Estrelão, a mesona oficial toda garbosa ou o chão. É a figurinha do bafo. É o craque, o perna de pau, a dor da derrota, o gozo da vitória, a torcida, o rádio, a pelota, a vizinha toda nua tomando banho de sol na varanda. Ou o vizinho, dependendo sempre do que cabe a cada um neste latifúndio de vontades e desejos – o único latufúndio produtivo, aliás.

O futebol é tirar onda, sarro, zoar, pentelhar o cara que torce pelo outro time. É torcer contra time brasileiro só porque não quer ter aquele infeliz lá do trabalho a lhe aporrinhar o saco. É mistério. É torcer escondido pelo gol do craque. É dizer a maior besteira do mundo sem culpa sobre quem foi, é e será melhor em campo, na história, na pelada da rua. É rabiscar nos intervalos de aula, durante o almoço, antes de dormir, esquemas táticos e escalar equipes maravilhosas. É chamar o treinador de renomado imbecil mesmo sabendo que nunca gostaria de estar no lugar do cara. É comprar ingresso para apupar jogador e depois pedir autógrafo para este mesmo infeliz. É a terra da hipocrisia permitida, porque brincadeira.

Mas brincadeira séria, se é que existe brincadeira que não é séria. Não venham dizer de arena multiuso, ar condicionado, cadeira com pantufa ou qualquer dessas imundícies. Já proibiram a cerveja, a bandeira – bom, aqui em SP, a terra onde não há amor, bandeira é proibida - e o sanduba de mortadela. Até o pernil na porta do estádio andam regulando, tratando de proibir o que a vigilância sanitária poderia regular. Imbecis, completos.

Escrevo estas linhas, que para muitos podem ser míopes de coração, para iniciar os trabalhos aqui neste blogue de futebol. Futebol como o trem, não como aquele joguinho de onze contra onze numa arena repleta de perfume de alfazema com narração do Galvão Bueno. Escrevo para afirmar que não há nada mais divertido, nada mais terrível, doído, alegre, nauseabundo, entorpecente do que o trem. Nem beijo na boca de quem se quer muito e se tinha dúvida da reciprocidade. Quem já fez gol no último minuto de uma peleja sabe do gozo. E quem já perdeu nos acréscimos sabe, mas sabe mesmo, sabe em todas as letras, hipóteses e hipotenusas o que é a morte, em pessoa.

Nos periódicos sobre o meu time ontem, e time todos sabemos essencial ao trem, porque sem time se pode até conhecer mas nunca experimentar o bagulho, as notas são fidedignas ao que foi o espetáculo: um jogo fraquinho, muidinho, bobinho, mas com os dois times com alguma raça e Luís Fabiano no lugar que um centroavante deve estar. 

Porém, sempre há um porém, as notas também dizem do público ridículo, de dez mil testemunhas numa tarde de sol na cidadela piratininga. Ah... fundamentais notórios especialistas caga regras e outros que tais... da milonga vocês não entendem nada. Entre as testemunhas, estávamos lá este escriba e a prole. E a paixão está nascendo aí, nesses detalhes, nessas linhas, nessa bobagem. O jogo? Foi ruinzinho. Mas o “Pai, tiraram o Piris, finalmente. Entrou o Rodrigo Caio”, com ênfase no “finalmente”, foi do balacobaco. 


E, por fim, Fernandinho, meu querido, correr faz bem para a saúde, sem dúvida. Mas futebol, futebol é outra cousa. 



28 de maio de 2012. Segunda rodada do Brasileirão de 12.

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