quinta-feira, 29 de março de 2012

Leiteria - O Futebol passou na Janela e só La Carolina não viu


Por Gilson Moura Junior

Bolivar esfregava suas mãos ao ver a equipe da elite Fluminense, herdeira do Império do Brasil adentrar o coliseu de Barinas. Buscava insuflar os fiéis bolivarianos  para que em um átimo de esforço garantissem uma pequena glória, um brilhareco nesta página de vexames escrita pelo clube do Irmão de Chávez.

Já a egrégora da aristocrática equipe das Laranjeiras, com o reforço cósmico Rodrigueano, patinava na sonolência que a longa viagem para a revolucionária pequena Veneza causou. Além disso, a soberba tricolor diante dos mais humildes adversários quase custou caro em alguns poucos pequenos suspiros de magia bolivariana.

O Duro jogo, de se ver, caminhava para a preguiçosa troca de magia entre a força do sonho continental da grande Colômbia e a cósmica força imperial com toques de "A Vida como Ela é" até que Abel, o mito, disse: "Vai Sóbis, vai ser Gauche na vida!".

E foi.

Um chute, um balaço, uma pintura. Dizem que desviou no zagueiro, clamam os fanáticos do vídeo tape que desviou na zaga,mas apenas os míopes da alma não veriam o toque de arte, o único toque de arte do artilheiro do improvável nesta pintura de gol que coroava mais uma goleada tricolor.

Foi mais um gol, um único gol, um gol 100%.

O restante inútil da partida era só um calmante para que a feliz torcida tricolor pudesse  dormir e trabalhar sem a euforia enganosa dos placares elásticos. Era só um aviso que estamos começando sem gastar o futebol, guardando-o pras batalhas que virão nas próximas fases onde garantimos o direito de disputar hoje.

Hoje o Futebol passou na janela, mas La carolina não viu.. e nem precisava, bastava um gol, aquele que coroa nossas goleadas.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Assistência - Passes pra gol da semana - 28/03


Dicas de leituras, Cinema, Livros que são verdadeiros passes açucarados pro gol de placa da sua mente. Passes pro delirar da geral da inteligencia, informações, dicas, deleites.


Vai, é só fazer!






"O futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da mídia"



Autor de centenas de frases célebres, Millôr Fernandes também já deu seus pitacos futebolísticos. Sobre outros esportes também. Aqui vai uma pequena lista de suas pérolas.

Onde? No Jornalheiros





Escreveu Nelson Rodrigues que “a mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana”. Mas Nelson não foi o único a reunir, no mesmo campo, a literatura e o futebol. A lista de escritores que usaram a bola, os clubes e os times futebolísticos como tema é bastante extensa. Em Millôr definitivo – a Bíblia do caos, que a L&PM publica em formato especial, o genial Millôr Fernandes transcorre seus pensamentos sobre os mais variados assuntos, entre eles, claro, o futebol. Vamos combinar que, em tempos de Copa do Mundo, essa é uma leitura perfeita.


Onde? No Blog da L&PM



Documentário sobre o cenógrafo e diretor teatral Gianni Ratto, nascido na Itália em 1916 e radicado no Brasil desde 1954. Acompanhado de sua filha, Gianni refaz o percurso geográfico de sua vida, passando por Gênova, Milão, Florença, São Paulo e Rio de Janeiro, visitando lugares e pessoas que marcaram sua trajetória. A cada encontro vivido, no decorrer do percurso, Gianni fala de seus trabalhos e revela as idéias de quem não só executa mas pensa o teatro sob a perspectiva de um humanista.

O Documentáiro contém depoimento do Grande Millôr Fernandes




Em alguns milhares de frases temos uma amostra da produção de mais de meio século deste que é um dos maiores intelectuais brasileiros de todos os tempos. Tendo passado por praticamente todos os meios de expressão (jornalismo, humor, desenho, pintura, poesia, teatro, cinema), Millôr Fernandes, nos últimos 60 anos, deixou sua marca definitiva na história, na arte e na imprensa brasileira. Cético, irreverente, sempre moderno, participou de todos os movimentos de renovação cultural dessas décadas, foi alvo de perseguição, censura sistemática e, no entanto, construiu uma obra invejável pela extensão e pela qualidade: mais de 100 peças de teatro (entre traduções, textos originais e colagens), presença constante na imprensa semanal e diária (O Cruzeiro, Pif-Paf, O Pasquim, Veja, IstoÉ, Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo etc.), exposições de pintura e desenhos, roteiros de filmes, letras de músicas, participação em shows musicais, na televisão, dezenas de livros publicados e mais o site www2.uol.com.br/millor/.

Aqui estão reunidas 5.299 frases escritas e proferidas todo esse tempo. Nesta 15ª. edição que a L&PM Editores publica em formato e acabamento especiais, foram incluídas 157 frases selecionadas da produção recente de Millôr Fernandes.

Trata-se de um fantástico conjunto de preciosidades intelectuais. Aos milhares de admiradores do autor podemos garantir que Millôr Definitivo é uma síntese (!) do pensamento de Millôr Fernandes. Frases que narram a nossa história recente e traduzem de maneira genial o que se viu, sonhou, sofreu e vibrou nestas últimas décadas.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Leiteria - A Solidariedade contra o Estádio

Por Gilson Moura junior

Era 1973. O Chile acabava de sofrer um golpe de estado que afastou do poder o Socialista Salvador Allende assassinando-o e aprisionou de centenas a milhares de pessoas em todo o país, usando inclusive o Estádio Nacional como campo de prisioneiros e de torturas.

Era 1973 e iniciava-se uma das mais longes e cruéis ditaduras da história, com assassinatos e torturas para dar e vender, com a  crueldade que inspirava e assassinava a canção de Victor Jara e Violeta Parra, direta ou indiretamente.

Era 1973 e o Chile conhecia sua primeira ditadura e as botas estadunidenses vestidas por chilenos em sua sanha pelo controle da América Latina que já havia feito vítimas no Brasil e nascia também na Argentina, no Uruguai e México vestida com a farda verde dos militares.

Era 1973 e o grito de gol foi substituído pelo urro de dor no Estádio Nacional de Santiago do Chile. Era 1973 e o sangue manchava pela primeira vez as luvas de pelica dos cardeais da FIFA em um processo que levaria cinco anos depois à Copa do Mundo da Argentina, bancada e usada pelos ditadores como propaganda do regime.

Era 1973 e ao menos um ato, um urro silencioso foi ouvido em Novembro, quando a Seleção Chilena enfrentaria, não um rival, uma outra seleção, mas a si mesma diante do silêncio da denuncia.

O Estádio Nacional abrigava agora a marca do sangue das vítimas do estado. Ao invés de uma partida de futebol, uma denuncia feita pela recusa da URSS em jogar a repescagem contra a equipe chilena, abrindo mão de participar da Copa do Mundo em nome da denuncia da barbaridade cometida no Estádio Nacional.

Podemos nos perder aqui numa comparação sobre ditaduras, como se o fato de um país ter sido palco das crueldades de Stálin o tornasse eternamente refém do fato e silenciado sobre qualquer crítica a atos bárbaros. Se assim fosse todos os estados nacionais silenciariam sobre o todo. A Escravidão não torna-se amena se falar inglês ou francês e não idiomas lusófonos.

A questão é que diante do mundo o silêncio no Estádio Nacional promovido pela recusa soviética soou como um grito de gol. Um grito de Gol construído pela solidariedade com torturados e mortos onde antes se jogava a bela bola chilena. Um grito de solidariedade comunista sim, um grito de solidariedade militante.

Diante de um mundo inteiro vimos a solidariedade contra o Estádio. Ouvimos o silêncio e nele se percebia o urro das denuncia das mãos quebradas de Victor Jara, as unhas arrancadas de tantos chilenos que apoiavam um governo democraticamente eleito, a morte da democracia, assassinada, estuprada.

Sabemos disso por termos arquivos sobre o fato, termos fotos, termos o histórico da partida, a cobertura internacional. Sabemos sobre as vítimas da ditadura chilena pela abertura dos arquivos e pela existência de relatórios que investigam os atos do estado contra indivíduos que lutavam ao lado de um governo e leito.

Sabemos do silencioso grito de gol e do eloquente silencio torturado do Estádio Nacional e também das vítimas que no estádio foram conduzidas pelo estado ditatorial de Pinochet à morte. Sabemos disso tudo por existir no Chile arquivos abertos da ditadura. Enquanto no Brasil o silêncio impera, a busca da ocultação  dos atos dos ditadores segue ferrenha, inclusive com anuência da mídia que sustentou a ditadura militar.


Cobramos responsabilidade do Estado sobre tudo, sobre os impostos, sobre a copa, sobre o Futebol e nos calamos sobre os corpos empilhados nas manchadas mãos dos cúmplices coma  tortura que guardam cadáveres em arquivos e a vergonha do assassínio na alma ferida de nosso país.

Cobramos por impostômetro a redução de tributos, sem refletir para onde vão e o que pagam, mas nos calamos sobre milhares de  famílias que não sabem onde estão seus filhos, irmãos, namorados, que não voltaram mais.

Cobramos a prisão de Ricardo Teixeira e de Havelange, mas ignoramos a  participação da FIFA na sustentação de ditaduras e no uso de ditadores para alavancar um processo de enriquecimento nunca vista da entidade e de seus dirigentes.

Reclamamos que perdemos a copa de 1978, mas fingimos não ver que o maior vencedor da copa tinha sangue nas mãos e vestia a farda do exército argentino.

Ditaduras e Futebol se entrelaçaram na América durante as décadas de 1960, 1970 e parte da década de 1980, como comprova o clássico "Onde a ARENA vai mal,: Um time no nacional". E o simbolo disto pode ser visto inteiro, imponente, em Santiago do Chile, é o Estádio Nacional.

Neste Estádio uma manifestação denunciou pela recusa, pelo silêncio, a arbitrariedade. Neste Estádio uma seleção se recusou a jogar onde companheiros de ideologia foram mortos.

Neste Estádio jogou-se a partida mais importante da Copa do Mundo de 1974, a partida da Solidariedade contra o Estádio.  Quem venceu no dia foi a URSS com sua recusa, mas a manutenção do silêncio sobre mortos e desaparecidos, com anistias e manutenção de inimputabilidade dos assassinos e torturadores indicam que ao fim o Campeonato foi vencido pelo Estádio.




Este post faz parte da Quinta Blogagem Coletiva #desarquivandoBR  que se realizará de 28 de março a 02 de abril cuja convocatória pode ser lida aqui: http://desarquivandobr.wordpress.com/2012/03/18/convocacao-da-5a-blogagem-coletiva-desarquivandobr-3/

terça-feira, 20 de março de 2012

Assistência - Passes pra gol da semana

Dicas de leituras, Cinema, Livros que são verdadeiros passes açucarados pro gol de placa da sua mente. Passes pro delirar da geral da inteligencia, informações, dicas, deleites.

Vai, é só fazer!




Na Lei da Copa, cerveja ainda é questão de soberania nacional. Beberam?

O deputado federal Gilmar Tatto, do PT, afirmou à rádio Estadão ESPN que a Lei Geral da Copa será aprovada e sua expectativa é que isso ocorra ainda nesta semana. Na entrevista, relatou a dificuldade do acordo, o que relata parte do fiasco da articulação do governo, especialmente em aceitar a venda de bebidas alcoólicas nos estádios no período do Mundial.

Essa é só uma parte do fracasso. Há outra muito mais grave: ninguém se lembra como e por que a cerveja foi proibida nosm estádios.




Contrariando Eclesiastes


É óbvio que esta culta e religiosa plateia, apreciadora de uma boa exegese, sabe que o lento processo civilizatório baiano foi erigido a partir da seguinte e retórica indagação largada por Eclesiastes há mais de doismilanos. Às aspas. “Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol?”(Sentiu a pancada, herege? Então, vá fumar um cigarro e retorne, pois hoje vai ser fenomenologia pra mais de metro.)

Onde? No Impedimento

Dica de Filme: O Milagre de Berna (Critica do Site Adoro Cinema)



Dois eventos marcaram a história da Alemanha no pós-2ª Guerra Mundial: a queda do Muro de Berlim e a histórica vitória da Seleção da Alemanha na Copa do Mundo de 1954, que ficou conhecido como o milagre de Berna, numa referência à cidade suíça onde ocorreu o jogo. As lembranças do jogo, que deu à Alemanha seu 1º título mundial, são mostradas através da família Lubenski, que vive na pequena cidade de Essen-Katernberg.



Dica de Livro: Gigantes do Futebol Brasileiro (resenha do site Universidade Aberta do Futebol Brasileiro)


A obra que virou referência da literatura esportiva em 1965 e mostra os perfis de 21 craques brasileiros ganhou uma nova edição.

Com ilustrações de Ique, ela chega aos leitores com atualizações importantes: inclusões dos perfis de Didi, bicampeão mundial com o Brasil em 1958 e 62, e de Ademir Menezes, artilheiro da Copa do Mundo de 1950. Ausências na edição original reconhecidas como erros por João Máximo.

"Didi foi uma falha universal, unânime. Mas o Ademir foi uma falha pessoal minha. Porque foi um jogador da minha geração, (do meu tempo) de adolescente. Foi um ídolo do futebol brasileiro da ocasião. E uma figura humana maravilhosa", disse o jornalista.

Outros craques que atuaram após 1965 também mereceram inclusão no seleto grupo, como Zico, Falcão, Romário e Ronaldo.

A edição 2011 apresenta perfis de Freidenreich, Fausto, Domingos da Guia, Leônidas da Silva, Tim, Romeu, Zizinho, Heleno de Freitas, Ademir, Danilo Alvim, Nilton Santos, Didi, Garrincha, Pelé, Gerson, Rivellino, Tostão, Falcão, Zico, Romário e Ronaldo.

Em relação ao livro de 65, a única exclusão foi a de Jair Rosa Pinto, titular da seleção brasileira no Mundial de 50. Devido à falta de autorização da viúva do ex-jogador.

Marcos de Castro contou como surgiu a ideia de elaborar a atualização do livro.

"Nasceu em um dia que olhei para estante e vi o livro envelhecido. Achei que podia merecer uma nova edição. Então, levei para Luciana Villas-Boas, executiva da editora Record, que se entusiasmou pela ideia. Depois, levei o João Máximo e tivemos uma longa conversa. Acertamos novas figuras. O que não esperava é que ficasse tão rica, bonita e toda colorida", disse Marcos.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Leiteria - Uma ducha no pó-de-arroz

Por Gilson Moura Junior

A torcida Vascaína planeja protestar  contra o racismo sofrido pelo Zagueiro Dedé  por parte da torcida paraguaia no jogo de ida contra o Libertad no Paraguay. Este protesto será feito no jogo que fará contra o mesmo time em São Januário pela Copa Libertadores. 

Este ato da torcida relembra o ocorrido em 1924 quando em repúdio ao ato da AMEA (Associação  Metropolitana de Esportes Athleticos) de excluir o Vasco da disputa do Carioca acusando-o de usar atletas profissionais no campeonato, que era amador.  

A AMEA era um embrião do que é hoje a FERJ, e buscava impedir, liderada por Fluminense, Flamengo e Botafogo,  que o Vasco continuasse triunfando nos campeonatos cometendo dois pecados: O de usar negros e mulatos e o de usar negros e mulatos pagos para jogar.

Não dá obviamente pra reduzir tudo a um repúdio racista dos clubes da Zona Sul e nem tampouco ignorar que havia também um repúdio à profissionalização. Além disso, é obrigatório citar que o Bangu, primeiro clube a ter negros em seus times e que sempre os teve, o América, outro clube que desde 1904 também possuía negros em seus times, também ficaram do lado dos grandalhões da elite ( E isso nem sou eu quem digo, é só fuçar no "O Negro no Futebol Brasileiro" do Mário Filho), o que leva à problematização da questão embutindo o tema do profissionalismo no papo. 

No entanto é inegável que todo o processo, inclusive  o motivo da ojeriza ao profissionalismo, era um problema cujo plano de fundo era a recusa da ampliação de quadros negros e mulatos na prática do Football que teimava em querer virar futebol.

Esse movimento levou ao Vasco a ganhar mais do que pontos na História, sendo um orgulho pra o clube, sua torcida e atraindo vários militantes dos movimentos anti-racistas para sua esfera de atração. E óbvio que isso com imensa razão, porque a postura do Clube foi exemplar em uma ilha de racismo, elitismo e exclusão que era o futebol no inicio do século XX que teimava em manter sportsmen alimentados com leite de pera distantes da grande maioria da população tratada como sub-humana pelas elites dirigentes de Fluminense, Flamengo e Botafogo. 

Nesse momento os Sportsmen tentaram salvar o que restava de seus planos de manter a bola longe dos Boleiros e pra sorte nossa sofreram um fracasso retumbante. Os Boleiros roubaram a bola dos Sportsmen e fizeram um gol de placa.

Neste episódio todo o Fluminense Footbal Clube, clube pelo qual nutro amores imensos e fanáticos, ficou com o nada legal rótulo de "racista", como se único, como se isolado, como se o detentor, formador e gerador de  uma política coletiva de uma elite racista encastelada na zona sul  e  que convenceu até o clube de operários Bangu Athletic Club e o também elitista clube do Andaraí América Footbal Club. 

A inegável liderança tricolor no mundo do esporte que muito alegrou e alegra sua torcida, neste caso se tornou geradora de um episódio causador de uma imensa nódoa em sua história. E serviu de álibi para coadjuvantes destacados e atuantes como o Flamengo e o Botafogo, que em suas regatas se omitem na história para assumir a co-autoria deste crime, sendo um  inclusive um usuário contumaz de sua popularidade pra fingir que não cometeu o antipopularíssimo ato racista contra o Vasco.

Esse episódio se liga a questões menos citadas que nascem lá na virada do império para a república, opondo uma elite nascida no Brasil aos requicios lusitanos de uma elite mantida ao redor dos palácios imperiais de São Cristóvão, sendo, portanto, um dos fundadores da rivalidade Fluminense e Vasco - e ouso dizer: da oposição do Vasco, um clube com raízes suburbanas, aos times da zona sul (Mesmo que o Vasco tenha nascido como um clube da elite portuguesa quando esta era a tal e não a nova elite, que, nascente, passa a residir na zona sul).

No meio dessa história toda, onde a torcida do Vasco mete bronca no exemplo e protesta trazendo um lado legal de suas raízes pra o protagonismo da luta contra esse mal fedorento que é o racismo, o lançamento pelo clube de uma campanha recente contra o racismo, e relembrando a carta de 1924, também,  é também bastante legal.

Seria muito legal também se os clubes formadores da história toda, os que lançaram o manifesto racista pela exclusão  de jogadores do time do Vasco em 1924, tomassem uma atitude que alimenta e fizessem uma mea culpa apoiando medidas anti-racistas, propagandas nos estádios,etc.  O Fluminense em especial poderia ser um exemplo ao assumir o ato racista de 1924 e efetuar um mea culpa, aderindo formalmente à luta anti racista. 

Um clube protagonista na própria formação do Futebol Brasileiro não pode ficar ad eternum acompanhado da nódoa do racismo oficial em suas belas cores. É antes  de mais nada um  dever do tricolor lutar pela superação de atos contrários à própria fidalguia propagada aos cinco cantos pelas hordas de fanáticos das três cores que traduzem tradição. Não somos os mais educados? É educado ser racista ou ocultar que o foi? Que mensagem ainda queremos passar em nosso elitismo? O bom da Elite,  o exemplo, ou o mal, a exclusão?

É chegada  a hora de lavar o pó-de-arroz do rosto e batalhar pra por lado a lado com nossos erros que culminaram na mancha racista (A exclusão do Vasco em 1924 e o episódio pó-de-arroz em 1914) o acerto da luta anti-racismo e um mea culpa por nossa história ter manchas cruéis do legado de uma elite escravista.

Tá na hora do tricolor ter mais vergonha de seu passado racista do que da besteira de rivais que o acusam de "dever a série B". 

O Coritiba, que sofre com a mesma fama de racista, dá o exemplo ao fazer debates a respeito do racismo no Futebol Patrocinado por ele. O ganho disso como marketing, história e honra para um time com a grandeza do Fluminense seria incomensurável e ajudaria também à medidas de redução do racismo em suas fileiras, de educação e exemplo para todas as outras torcidas.

Não podemos ser responsabilizados pelos crimes do passado, mas podemos mudar o futuro assumindo parte da luta pela correção do semelhante no futuro e lamentando que antepassados ajudassem a construir o racismo do presente.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Gino Trombador - E a Libertadores foi eliminada da Champions League

Por Paulo Ferraresi Pegino

O sonho da ponta da bota de conquistar a Europa acabou. Pelo menos nessa temporada. Ontem, o Nápoli foi eliminado da Uefa Champions League jogando um futebol apático e até um pouco covarde na Inglaterra. O Chelsea, time de uma temporada instável e com um futebol sonolento e burocrático não teve lá grandes dificuldades para reverter o placar do jogo de ida, quando foi atropelado por 3 x 1 por um Napoli avassalador na Itália. Em Londres, o time inglês enfiou um sacode de 4 x 1 e passou fácil para as quartas de finais da liga.

Nessa temporada, o Napoli era o representante europeu do futebol latino. Para ser mais exato, era tal qual um time argentino quando joga Taça Libertadores: uma torcida barulhenta e apoiadora até nos piores momentos, um jogo de muita pressão em casa, até mesmo contra adversários tecnicamente superiores, e muito talento do meio de campo pra frente. Foi assim, por exemplo, que o Napoli conseguiu virar o jogo de ida contra esse mesmo Chelsea. Vale ressaltar que fazer pressão em casa contra adversários mais fortes não é lá muito comum na Europa. De praxe, ciente de sua inferioridade técnica, um time menor se porta como num burocrático jogo de xadrez: se fecha, tenta anular as principais jogadas do adversário mais poderoso e, com uma disciplina tática irritante, vai aos poucos encaixando seu jogo. Não era assim que a banda tocava no San Paolo lotado. Lá, o Napoli tacava fogo no jogo, na torcida e no adversário.

As coincidências entre o Napoli e os hermanos continuam: o ataque é fino. Tem o matador uruguaio Cavani, o talentoso meia-atacante argentino Lavezzi e o habilidoso chileno Vargas. Todos rápidos e de decisões inteligentes. É comum um deixar o outro na cara do gol, e a raça pra jogar bola sobra; o problema é que a argentinização continua na outra ponta do time. Assim como os conterrâneos de Messi, o Napoli tem uma defesa frágil (exceção honrosa ao goleiro De Sanctis). Junto com a apatia do jogo da volta, a defesa foi a sua ruína na liga.

Esse DNA latino, aliás, vem de longa data. O melhor Napoli de todos os tempos era o da dupla Maradona e Careca. Esse time também contava com a inteligência do Alemão no meio campo. Foram bi campeões italianos e campeões da Copa da Uefa (atual Uefa League). Diz a lenda, ainda, que a torcida italiana que lotava o San Paolo, em Napoles, na seminifinal da Copa do Mundo de 1990 entre Itália e Argentina estava dividida.

Uma parte torcia pela pátria, já a outra não esquecia que era napolitana e sulista e que, em geral, era vítima dos preconceitos mais imbecis por parte de seus conterrâneos do norte rico. Essa metade ficou feliz quando a Argentina passou para a final depois de vencer os italianos nos pênaltis.

De agora em diante, o que sobra na UCL são figurinhas carimbadas: Barcelona, Real Madrid, Milan, Chelsea, Bayern de Munique... Todos poderosos. Ainda, figuram outros dois tradicionais, mas com um pouco menos de grife: Benfica e o novo rico Olympique de Marselha. Fechando a lista, a zebraça cipriota Apoel. A Libertadores ficou órfã de seu único representante na UCL. Uma pena. 


Leiteria - A Batalha das Oficinas

Por Gilson Moura Junior

Não a vi, mas a intuía. Não a vi, mas saboreava-a.

A ignorância que compromissos pessoais exigia como paga não cegava-me à batalha que pavimentaria mais um pedaço da estrada tricolor à Glória. Entendia a dura e suada batalha pela conquista da cidadela de Bolivar.

À beira da rua das oficinas rugia o estrondo de um soberbo esquadrão diante de uma bem construída muralha que conteria os arroubos arrogantes de guerreiros iludidos por um "aprendizado" desta guerra pela libertação como quem esquece a paciência necessária para superar os obstáculos que toda guerra exige.

Como avisara o Comandante, a batalha exigiria paciência, entrega de guerreiros e nação para a superação da aguerrida resistência da humilde, porém séria, cidadela bolivariana. E nada mais próprio, poético e simbólico que o golpe fatal para a derrocada dos resistentes que um balaço proferido pelo mais humildade dos guerreiros, o recém chegado e contestado Zagueiro Anderson.

O Esquadrão entendeu a lição ou voltará a entrar em campo armado de vaidade e soberba diante de mais um valoroso adversário? A caminhada para a glória é longa, dura, exige mais que apenas esforço, exige alma, exige a sabedoria dos que caem e retornam do inferno para a construção do palácio do legado histórico.

Quem aprende o segredo das batalhas não dá cotoveladas em adversários arriscando-se a  expulsões e suspensões, coisa que um de nossos principais guerreiros parece ter esquecido em meio a seus discurso de "superação".

Superamos mais um obstáculo, demonstramos flancos, falhas, brechas, que nossos inimigos saberão explorar. Mostramos mais virtudes, a da paciência, a da insistência. Demos mais um passo retomando o caminhos das famosas "Goleadas Tricolores" de Zezé Moreira.

No mítico dia em que nossa vaidade enfrentou a humildade, o gol da humildade nos relembra tempos onde éramos o Timinho e levamos a taça.

Estamos no  caminho certo basta segui-lo com humildade.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Leiteria - O Fim das seleções nacionais: um post desexaltação

Por Gilson Moura Junior
Internacionalmente e historicamente o crescimento do poder dos clubes com relação à gerência do Futebol foi acompanhado pela redução do poder das federações, contestação de convocações às seleções nacionais e redução paulatina do valor das competições internacionais de seleções aos olhos do amante comum do velho e violento esporte bretão.

A expansão do valor das competições interclubes foi crescendo ao ponto da própria Mãe FIFA partir pra ignorância na direção do domínio do mundial interclubes que, de uma competição entre confederações continentais e até marginal aos olhos da GodMother, passou ao status de FIFA World Cup. Isso ocorre primeiramente a partir do mundial biônico de 2000, quando concorria ainda com a Copa Toyota (o mundial tradicional até ali que eclipsou os jogos de ida e volta continentais que ocorreram até 1978, salvo engano, e se tornou hegemônico por quase vinte anos), e se torna depois oficial a partir de 2005 com o mundial vencido pelo SPFC de Rogério Ceni.

A Copa do Mundo no entanto permanece como a única competição internacional de seleções que mobiliza mundialmente de forma apaixonada a massa futeboleira perdida nos pântanos da  paixão nacional de  mais de 90% do planisfério. Fora a Copa só a Eurocopa consegue mobilizar regionalmente com o tanto de paixão que uma competição tem de ter pra ser chamada de sua pelos torcedores.

Ao mesmo tempo a Champions League e a Libertadores deixa muita cueca e calcinha molhada de poluções noturnas em mais residências do que pode visitar o Ibope. Vagabundo dorme e acorda pensando naquilo. O mesmo ocorre na Copa dos Campeões CONCACAF e Liga dos Campeões da AFC, e não duvido se na Oceania e África o bicho não pegue de costas no amor ao esporte mais fodão do mundo vestindo as camisas de clubes.


A antiga e presente paixão do torcedor, "esse apaixonado" segundo jornalistas "desapaixonados", pelos clubes, suas cores, tradições e associação quase que familiar, fortalece-se com a valorização cada vez maior, que vai desde o viés econômico até o aspecto subjetivo da rivalidade, das competições continentais como Libertadores e Champions. 

O maior volume de recursos presentes na atual situação da economia do esporte amplia premiações, amplia visibilidade internacional, mexe com planos de marketing e foca em competições cuja visibilidade de uma marca pode alcançar mercados ainda virgens da presença de, por exemplo, uma Unimed da vida. Isso se soma à ampliação do número de clubes campeões das copas continentais e ao acirramento da rivalidade  nos países e cidades a partir disso, também o aspecto da redução de fronteiras pela melhoria da infraestrutura de transportes e comunicação ampliam a facilidade de conhecer outros clubes, outros centros de futebol, outras culturas e também o de gerar rivalidades antes inexistentes.

Se antes Brasil e Argentina eram unidades concretas de rivalidade esportiva, hoje Fluminense e LDU ocupam este espaço com muito mais frequência (e talvez eficiência), mexendo com emoções, mexendo com amores e ódios. O Futebol Uruguaio, Argentino e  Brasileiro continuam sendo representados, mas, antes da unificadora nação de chuteiras, talvez os guerreiros de diversos "clãs" como os Carboneros, tricolores, alvinegros, Xeneizes e  colorados sejam hoje mais simples representação da paixão nacional vestindo chuteiras do que as antigas armaduras dos reinos centrais.

As "nações unificadoras" no esporte perdem espaço pra "reinos" locais, que inclusive se tornam aliados entre si pelas cores e tradições e menos pela língua que falam e origem à qual pertencem, vide liga dos urubus e União Tricolor Velez-Fluminense.

Neste mesmo quadro, neste mesmo contexto, as seleções nacionais são por vezes contestadas por torcidas e clubes por tirarem jogadores de seus times em momentos importantes, pelos jogadores se contundirem a serviço da "nação" e, inclusive, pelo excesso de competições "menos importantes" das seleções que atrapalham "o que vale" e está sendo disputado pro clubes.

A própria visibilidade da seleção pelos "amantes" é menor do que qualquer jogo do Corinthians ou Flamengo e não duvido que o Barcelona leve mais gente à frente da TV que a seleção da Espanha. Sem contar que o futebol de clubes pode superar até possíveis nacionalismos, como no caso da equipe blaugrana, ao levar uma paixão para além das fronteiras nacionais seja pelo amor em si à camisa ou pelo futebol praticado.

Nesse quadro de redução da  importância do papel das seleções nacionais e ampliação da importância das disputas entre clubes e, porventura, do poder econômico e político destes em relação a federações e a confederações, é que se entende ser propício à discussão sobre a necessidade das seleções nacionais de mesmo existirem.

Se antes tiveram o papel de fomentar o futebol mundo afora dentro do contexto de fronteiras nacionais firmes e rígidas, hoje as seleções mantém uma lógica de busca de costura de laços nacionais que são em tese mais fragmentados do que firmes e que por vezes são falsos, artificiais. Se mesmo em um país como o Brasil, com certa "solidez" de laços que unificam diferenças regionais, especialmente via língua, há uma nítida diversidade que tradicionalmente contesta o "brasileirismo" ao se notar a alimentação de  preconceitos regionais, imagine em um país como a Espanha onde a Galiza, País Basco e a Catalunha não se identificam com o Estado espanhol. 

Serão as seleções realmente nacionais?  Será a seleção brasileira ou será ela uma seleção de um eixo econômico que centraliza o futebol, que reúne recursos e estrangula centros menos "gordinhos' em termos econômicos? Será a seleção Espanhola ou a de uma força de ocupação que se alimenta de catalães para sustentar um título que deveria nem falar a língua de aragão?

Vosso escriba nunca se sentiu muito bem em nacionalismos, porém também não pretende inflamar separatismos nem mandar o Rio Grande do Sul ser o Uruguai do Norte, apesar de apoiar incondicionalmente a independência basca, catalã e galega, por exemplo. Mas é necessário discutir essas formas de transformação de paixões locais universais, por serem "aldeia", em alimentadores de uma ideia de "nação" unificadora, estranguladora do diverso e, pior, sugadora de recursos humanos e financeiros das "aldeias'.

Não é de hoje que somos menos "Brasileiros com muito orgulho e muito amor" e mais "Sou Tricolor de Coração, sou do clube tantas vezes campeão" ou Saudamos o "Tricolor Paulista, amado Clube Brasileiro" ou "o Campeão dos Campeões" ou "o Galo Forte e Vingador".

Somos mais e mais nossas cores e menos cores centralizadas, com menos cara, menos gente, menos sonho, menos sangue e mais e mais distante de nossas arquibancadas e amores e bandeiras.  Queremos Copas do Mundo ou que nosso pavilhão erga todo ano uma libertadores e possamos gritar no ouvido de nosso amigo rival  nosso urro primal de "É campeão, porra!"? E nem peguei pelo aspecto do argumento fundamental dos bancos de plástico dos botecos e arquibancadas: "Porra, vou ligar pra Buenos Aires pra zoar Argentino se a SeleBF vencer o mundial? Não, mas vou zoar Vascaíno e  Mulambo se o Flu for campeão da Libertadores, pô!".

Somos menos nacionais e mais universais, por sermos cada vez mais aldeia. Talvez seja a hora de dependermos menos de cercas embandeiradas que separam quintais.

terça-feira, 13 de março de 2012

Assistência - Passes pra gol da semana

Dicas de leituras, Cinema, Livros que são verdadeiros passes açucarados pro gol de placa da sua mente. Passes pro delirar da geral da inteligencia, informações, dicas, deleites.

Vai, é só fazer!


CBF: Para que tudo continue como está

Pouca coisa mudará na CBF, principalmente a partir das primeiras declarações públicas do paulista José Maria Marin, que chegou ao cargo por ser o vice-presidente com idade mais avançada no momento. No alto dos seus 79 anos, o novo presidente deixou claro que assume a presidência de acordo com o estatuto da entidade e que cumprirá o mandato até o final para fazer – vale sublinhar – uma gestão de continuidade.
Por Irlan Simões.

Onde? No Outras Palavras.



Tendo treinado só duas grandes equipes na vida, Mano tem como título mais importante no currículo uma Copa do Brasil, além de dois estaduais gaúchos, um Paulista e dois campeonatos da Série B. Neymar, que tem uma carreira muito mais curta que o comandante, tem uma Libertadores, uma Copa do Brasil, dois Paulistas, um Sul-Americano pela seleção sub-20 de Ney Franco, e várias premiações de melhor jogador. Não sei se o treinador assiste a jogos no Brasil (talvez o campeonato russo lhe seja mais atraente, dadas as convocações de seu time), mas Neymar evolui a cada dia. Jogando aqui. Quem precisa de mais experiência mesmo, Mano?

Onde? No Futepoca.




Dica de Filme: Procurando Eric (Critica do site Omelete)


O lado humano de À Procura de Eric (Looking for Eric, 2009) fica nas mãos de Eric Bishop (Steve Evets), um carteiro que sofre de ataques de pânico. Em uma das primeiras vezes que teve um destes surtos, Bishop saiu de casa, deixando para trás sua jovem esposa Lily e a recém-nascida filha. Vários anos se passaram, a menina está prestes a se formar na faculdade, mas para isso precisa da ajuda de seus dois pais para ajudar a cuidar de sua filhinha enquanto termina sua tese de conclusão de curso.

(...) Além de fazer rir e emocionar, Loach e Laverty também aproveitam para tecer uma crítica ao atual estágio do futebol, em que clubes cobram fortunas de seus fãs, se tornam cada vez mais ricos e, consequentemente, elitistas, privando de suas arquibancadas o trabalhador comum, como os carteiros. E assim os dois provam mais uma vez que gostam e entendem de futebol.


Dica de Livro: Footballmania: uma história social do futebol no Rio de Janeiro, 1902-1938 (crítica do Google Books)

Nova Fronteira, 2000 - 374 páginas
Footballmania faz parte da Coleção Histórias do Brasil que procura divulgar estudos relevantes da pesquisa histórica produzidos no país nos últimos anos. O historiador Leonardo Affonso de Miranda Pereira toma o futebol como objeto de estudo, analisando suas origens, seu início no Brasil e o seu significado para a expressão do nacionalismo brasileiro. O livro traça um panorama do futebol no Brasil, desde a sua chegada em 1902 até a sua consagração na Copa do Mundo de 1938, observando a perda da sua inicial marca elitista, que é também evidente no processo que determinou a mudança do 'football' para o abrasileirado 'futebol', e os elementos que o transformaram em prática marcante da cultura local, fazendo com que todo brasileiro se sinta um craque ou um técnico em potencial.




O Campinho da Aldeia Velha: Estabilidade estática relaxada

Por Victor Freire de Carvalho

Um dos maiores avanços na ciência aeronáutica foi o desenvolvimento de aviões que eram aerodinamicamente instáveis, associado a controles eletrônicos de áilerons e élevons, as superfícies que o fazem movimentar-se no ar. O que parece ser uma receita para o fracasso (como realmente foi, nos primeiros ensaios de vôo do F-16 americano) na verdade resultou em aviões mais manobráveis e capazes de fazer malabarismos antes impensáveis no ar. Tecnologia iniciada com os americanos, teve nos russos o seu ápice, com o desenvolvimento do pouco ortodoxo Sukhoi Su-47 “Berkut”.


É impossível, ao menos pra mim, deixar de ver paralelos entre um arrojado avião aerodinamicamente instável e as táticas usadas pelo técnico Zé Teodoro no Pernambucano deste ano. E não dá pra deixar de ver semelhanças com ensaios de alguma máquina maravilhosa, porém inédita e sujeita a falhas. É o famoso preço do pioneirismo.

Vejam bem: Zé tentou fazer funcionar, no início do campeonato, um 4-4-2 que se mostrou manco, com resultados insatisfatórios. Eu não me recordo bem agora, mas Zé deve ter usado em alguma ocasião um 3-5-2, que vou desconsiderar por enquanto. Fato é que a coisa não estava andando por uma série de fatores, sendo o principal a qualidade, a motivação e a concentração do nosso elenco.


A necessidade é a mãe da invenção, e hoje, digo, entendo, de certa forma, o porquê de Zé ter criado seu atual 4-3-3. O esquema tem potencial, embora esteja muito sujeito a erros. É uma aposta alta, mas Zé deve ter entendido que os eventuais benefícios compensavam os riscos. Obviamente temos problemas, como a má vontade de jogar que Leandro Bambu vem demonstrado, a falta de aplicação pela qual Weslley e Chicão passam, os quilos extras de Carlinhos Bala e a insistência de Luciano Henrique em achar que é um jogador carioca – somente no que toca às baladas e ao álcool.

No entanto, sempre resta a esperança de que os dirigentes do Botafogo usem de sua inteligência e realizem uma grande contratação, levando embora por custo zero Flávio Caça-Rato e Branquinho, numa tacada só.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Da Ideia Informa: Sai: Ricardo Teixeira. Entra: Cura?

Editorial - Lucas Morais e Gilson Moura Henrique Junior


Com a queda de Ricardo Teixeira da Confederação Brasileira de Futebol, o dia de hoje mostra ser fruto de profundas mudanças no futebol brasileiro e terá profundos impactos sobre este. É que as placas tectônicas econômicas-políticas mexeram tanto que precisaram renovar a sua superestrutura. Em miúdos: a CBF ficou obsoleta para as novas forças econômicas que emergem.

O futebol brasileiro hoje conta com empresas do porte de BMG, Unimed, Bradesco, 9Nine, Traffic e Sonda. É sabido que estas e outras empresas usam clubes como intermediários, vitrines, sócios, entre outras coisas. 

Esse é justamente o momento capital em que essas e outras empresas dos bastidores do futebol brasileiro terão sua chance para impor a sua força, a força do capital, enquanto as arcaicas federações, sustentadas como capitanias hereditárias e estruturadas com base na troca de favores, tendem a perder poder político nesse novo contexto que se abre, em que os clubes de futebol provavelmente atuarão como porta-vozes das empresas associadas.

Para este novo cenário, torna-se necessário um ator que transite entre o espaço institucional do Estado brasileiro, o Governo, e também entre o capital (empresas) e os clubes, permitindo uma relação entre os clubes e o capital com maior independência, sem a intervenção da Confederação nas competições, permitindo inclusive o surgimento de uma liga onde o fluxo de capitais seja caudaloso. Além disso, a saída pode ser tentadora para uma CBF que pode passar a cuidar especificamente da seleção, seu produto mais lucrativo. Fernando Sarney é um dos nomes cogitados, o que pode indicar que a ideia de uma relação da CBF com o Estado brasileiro com, digamos, maior intimidade, especialmente em momentos pré-Copa.

Atualmente, pode-se perceber 9Nine, Traffic, Sonda, cada uma a seu modo, intermediando rios de dinheiro com jogadores, imagem, placa de publicidade, mercadorias diversas, planos de sócio torcedor e direitos de transmissão. A Globo está pressionada, já que a Fox, de Rupert Murdoch, e os demais monopólios internacionais da comunicação podem, agora, adquirir direitos de transmissão para TVs abertas. Em dois anos o pau vai comer solto, e muita água correrá por debaixo da ponte. Já temos os principais players em campo, cabe acompanhar e pressionar pelas mudanças que privilegiem a melhoria do futebol nacional.


O Brasil está experimentando nos anos recentes uma modernização e renovada inserção na economia política internacional. Nada mais natural que o futebol também entre neste novo cenário, e também passe por mudanças

Até por quê, vamos combinar: o capitalismo no futebol precisa escoar suas mercadorias, já que os negócios nas potências capitalistas não vão nada bem.

Se saem de cena enfraquecidas as oligarquias da CBF, entram fortalecidas as empresas do futebol brasileiro e internacional.

Gino Trombador - A Ferrari do Cruyff e a Ferrari do Wagner Ribeiro


Por Paulo Ferraresi Pegino

Um dos momentos mais marcantes para qualquer são paulino com mais de trinta anos aconteceu certamente em 1992, pouco depois dos 34 minutos do segundo tempo do jogo São Paulo e Barcelona, no gélido dezembro de Tóquio. A bola ainda procurava o melhor lugar para descansar dentro da meta do grande Zubizarreta, quando Raí iniciara sua corrida em direção ao mestre Telê Santana. Corrida em linha reta, com o olhar fixo e com uma emoção contida, certamente penosa para ser segurada. Nenhum gesto de comemoração. Raí sabia que os melhores momentos daquele time deveriam ser dedicados ao mestre, e aquele, claro, era um desses momentos. Só foi esboçar um sorriso quando atravessou a barreira formada por colegas e finalmente alcançou um Telê ainda tenso com o restante do jogo que viria.

Era madrugada no Brasil, e o senso de responsabilidade de torcedor (que nada!) me obrigava a acordar toda a vizinhança, num raio razoavelmente grande de casas, com um grito de gol que me deixou rouco por dias seguidos. Na manhã seguinte, estampado no jornal que meu pai religiosamente comprava todos os finais de semana, a célebre frase do então técnico da esquadra blaugrana, Johan Cruyff: “fomos atropelados por uma Ferrari!”

Sem falsa modéstia, a analogia foi perfeita. Afinal, significava e traduzia o ápice de um trabalho coletivo bem feito, arquitetado pelo saudoso mestre, montado para vencer jogando bem e fazendo gols, e que transformou em uma “Ferrari” um bando de jogadores que em sua maioria nada eram além de comuns (todos craques para nós são paulinos, claro). Lá se vão vinte anos...

Essa semana a torcida são paulina foi novamente “agraciada” com a analogia da Ferrari. Wagner Ribeiro, agente-empresário de Lucas, disse que seu pupilo era uma “Ferrari mal dirigida”. A frase foi uma resposta às críticas construtivas recebidas pelo jogador em função de más atuações nos últimos jogos. Sem saber lidar com elas, o jovem Lucas ficou magoado e desabafou no twitter. O empresário agiu rápido e o recado foi claro: seu menino está pronto e é craque. O São Paulo, a instituição, o técnico, seus companheiros, são obstáculos à sua arte sublime e apenas o atrapalham. A frase repercutiu.

Talvez Wagner Ribeiro tenha razão; assim como a Ferrari de Telê, sua Ferrari também conquistou o mundo, afinal de contas o twitter de Lucas pode ser lido desde a Sibéria até a Califórnia. Não só isso, o menino prodígio também coleciona outros feitos: possui sua própria legião de lucazetes e é figura comum em eventos midiáticos de grandes proporções, como encontros com príncipes europeus e participações em programas globais de auditório. Não à toa, desfila suave ao lado de nomes consagrados como Ronaldo e Neymar. Com vasto currículo e nobres conquistas, o self-made man do Wagner Ribeiro nada mais tem a aprender no futebol.

De besta, o empresário só tem a forma de se expressar. Percebeu a chance de abiscoitar uns muitos trocados com a situação colocando jogador contra time e torcida. E o raciocínio é simples: quanto mais transferências, mais comissões. Forçar a saída do jogador é um negócio lucrativo, mesmo que para isso tenha que usar covardemente seu pupilo, colocando-o em uma situação que gera mal-estar com clube, colegas, torcedores e técnico. De quebra, ao mimá-lo em público e blindá-lo de críticas, o empresário reforça o vínculo subjetivo construído com base em uma relação paternalista e altamente danosa para o jogador. Em outras palavras, se posiciona como o pai-conselheiro e amigo, “parceirão” sempre disposto a protegê-lo.

Mal percebe o jovem jogador que ao se deixar levar pelos elogios interesseiros de seu empresário e ao não aproveitar as críticas para melhorar seu futebol, pode acabar como mais uma de tantas promessas do futebol brasileiro. A “Ferrari” pode ter um destino pouco nobre: talvez acabar encostada na garagem de um time de segundo escalão do futebol europeu, ou ainda, acabar em algum XV de Piracicaba, como bem lembrou o Menon acerca do caso do “Messi brasileiro”, uma das recentes descobertas desse mesmo Wagner Ribeiro.