quinta-feira, 31 de maio de 2012

Solucionática - O gol do Danilinho


Por Victor Coelho

No livro Veneno Remédio: o futebol e o Brasil, José M. Wisnik destaca a ideia de que o futebol se distinguiria de outros esportes coletivos (como basquete ou vôlei) por conta da maior dinâmica do jogo: jogadas mais imprevisíveis (comparar com as jogadas do vôlei, onde se destaca mais a eficiência na execução de jogadas-modelo), não limitadas pelo tempo máximo de conclusão de jogada de ataque (como é no basquete). Somente o futebol permite mais que simplesmente dizer como foi a eficiência dos times ou sobre quem fez muitas cestas de três ou a enterrada mais brutal: o futebol permite que se conte histórias sobre o jogo, onde uma análise pode se configurar numa crônica, por exemplo.

No caso do último jogo do Galo, vitória de 1 x 0 sobre o Corinthians pela segunda rodada do Brasileirão de 2012, o gol de Danilinho me lembrou da imprevisibilidade, de uma maneira que me fez pensar também, novamente, no futebol como um tipo de arte, sem cair no clichê do “futebol arte x futebol feio” (falsa polarização pois defender em bloco também é um tipo de arte tanto quanto um drible fenomenal). 

O jogo era bastante disputado, o Corinthians – time encardido pelo entrosamento e pela moral de ser o atual campeão brasileiro e semifinalista da Libertadores – considerado favorito mesmo jogando contra o campeão mineiro invicto, na casa do adversário. O Corinthians não conseguia impor o domínio do jogo, mas chegava com mais perigo. Jogo tenso e bastante disputado, com defesas levando vantagem sobre os ataques. Tudo poderia acontecer.


E algo aconteceu. O time do Galo foi para o ataque, a bola no campo do Corinthians, até que chega aos pés do zagueiro Réver, que vê o baixinho Danilinho se livrando da marcação, na entrada da área. Como autêntico armador - que o time carece - faz passe de categoria, pelo alto, pegando a defesa do Corinthians desprevenida, incluindo o goleiro Cássio, de quase dois metros de altura.
Enquanto a bola percorria sua trajetória pelo ar, expectativa. O que faria Danilinho? Tentaria dominar a bola com o peito para depois tentar o chute, quando certamente daria tempo de o(s) zagueiro(s) ou o goleiro chegarem na marcação? Tentaria tocar de cabeça para um companheiro? Chutar para o gol de primeira seria muito difícil por conta da trajetória da bola, ao mesmo tempo descendente e alta, o que por sua vez, além de impossibilitar o chute de primeira, também impedia uma cabeçada firme. A expectativa naqueles longos segundos era aumentada pela dúvida pela posição do meia-atacante: estaria impedido?


Então o inesperado. Danilinho tranquilamente espera a conclusão do passe, observando a bola. Afasta-se para trás para que sua posição corresponda com a trajetória da bola. Mental e instintivamente calcula sua (da bola) velocidade, peso, sua distância (a dele próprio) com relação ao gol. Então, quando a bola chega, uma leve cabeçada, e apesar da pouca distância entre jogador e gol, a bola sobe de novo ao ar e encobre o gigante Cássio, que apenas observa, semiagaixado, estupefado e rendido, a bola fazer o caminho descendente para encontrar a rede. Delírio da Massa.


Naquela pequena fração de tempo, Danilinho, que ainda apresentava um futebol aquém do que se espera dele, tornou-se um gigante pelo autodomínio, confiança, foi manipulador das leis da física, senhor da matéria de seu corpo e da bola, foi o gênio criador, ponto metafísico naquele microcosmo formado por arquibancadas, gramado, traves, por corpos e mentes na disputa entre dois times. Provou que o futebol é uma maravilha, apesar do esforço que fazem para estragá-lo. 




terça-feira, 29 de maio de 2012

Leiteria - Qual o problema?


Por Gilson Moura Junior

Gosto de futebol como quem sangra. Sim, como quem sangra, qual o problema?

Não entendes? Não serias capaz de entender se aquele gol te doesse, não serias capaz de entender se aquele gol fosse teu orgasmo, tua alma saindo pela boca, lágrimas nos olhos e algo mais intenso que sua ausência de fé jamais entenderia, fortalecendo-se em ti como uma chama, como um mundo.

Ópio do povo? Que seja! Se for ópio que me enlouqueça, que me formalize como adicto, que me devore!

Quando nasci me fiz tricolor. Quando cresci e lutei contra reis, bárbaros, gorilas, soldados, pastores, ela estava tatuada na minha alma, aquela bandeira e as mesmas três cores que traduzem tradição.

As mesmas três cores que me ajudam a falar com porteiros, empregadas domésticas, balconistas, motoristas de ônibus, lavradores, putas, cães vadios, sarjetas e garçons. Marx? Não, Marx me ajuda a ver o mundo, a eles não, quem me ajuda a vê-los é Nelson Rodrigues. 

Aqueles rostos transtornados pela perda do Gol de Diego souza, que pulavam com o gol de Marcos Junior ou de Carleto, que odeiam Ronaldinho Gaúcho, que são esperançosos com a alma de Loco Abreu por sobre a estrela solitária, quem entendeu foi Nelson e não Marx.

É certo que precisamos mudar o mundo, é certo! E pra isso precisamos de Marx, mas se esquecermos de Nelson veremos em nome de quem o mudaremos?

Gosto de Futebol como quem goza. Qual o problema?

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Solucionática: Galo 1 x 0 Timão

Lucas Morais

No último domingo, o Galo entrou no estádio Independência, em Belo Horizonte, com público de 14.740 e desfalcado dos atacantes Guilherme e Neto Berola, o lateral-direito Carlos César e os volantes Leandro Donizete, Fillipe Soutto e Serginho. O Corinthians, por sua vez, desfalcado dos atacantes Emerson e Jorge Henrique e o meia Paulinho. Apesar dos desfalques em ambos os times, foi um bom jogo, com emoções mais intensas ao fim. Movimentações rápidas, muita marcação e chances de gols para os dois lados desde os primeiros minutos.


ATLÉTICO-MG: Giovanni; Marcos Rocha, Réver, Rafael Marques e Richarlyson (Leonardo Silva); Pierre, Dudu Cearense (Escudero), Bernard, e Mancini (Júnior César); Danilinho e André  
Técnico: Cuca

CORINTHIANS: Cássio; Alessandro, Chicão, Leandro Castán e Fábio Santos; Willian Arão (Douglas), Ralf, Danilo e Alex; Willian (Liedson) e Elton (Gilsinho)  
Técnico: Tite

Com os goleiros Cássio e Giovanni defendendo bem, o jogo foi predominantemente no meio-campo, com o Atlético indo para cima no primeiro tempo, mas também tomando contra-ataques que poderiam claramente ter colocado o Corinthians à frente. A falta de criatividade do ataque atleticano facilitou o trabalho do bem armado sistema defensivo corintiano, especialmente quando o lateral-direito Marcos Rocha, em falta sobre o atacante Willian, recebeu amarelo, facilitando as jogadas ofensivas do Corinthians pela sua lateral-esquerda. Dali, o Timão teve suas três melhores chances, perdidas por Elton e Willian.

Pelo Galo, o volante Dudu Cearense voltou ao time titular e mostrou que ainda está fora de forma, mas poderá ajudar na longa trajetória do Brasileirão. André, movido por seu infantilismo, chutou uma bola quando havia sido falta para o Corinthians, provocando uma expulsão estúpida por parte do juiz, que havia, com igual estupidez, expulsado Fábio Santos por jogar a bola no adversário após a marcação de uma falta, justamente em André. Com a expulsão de André ficou nítido que, além da contratação da incógnita que atende por Jô, mais um atacante cabe nesse elenco, até para pressionar o André. O meia argentino Escudero jogou bem e dá mostras de ser um jogador que tem velocidade, consegue dar qualidade de passes e, também, assistências.

Num contra-ataque, Réver, que carregou, como regularmente faz, a bola desde a zaga até o campo adversário, lançou-a na cabeça do baixinho Danilinho, que cobriu magicamente o gigante Cássio, de cerca de 1,90m, que já estava centenas de horas sem levar gols. Mas, apesar do gol, Danilinho anda apagado em campo e precisa se empenhar muito para honrar a camisa alvinegra, como muitos de seus companheiros já fizeram. Atualmente atuando no meio-campo, Mancini mostrou afobação e teve comportamentos, mais uma vez, imaturos e ainda perdeu um gol feito logo no início do jogo. O lateral-direito Marcos Rocha, apesar do cartão sofrido, fez um bom jogo, acertando seus passes, ajudando nos desarmes e virando bem o jogo. Richarlyson e Pierre, assim como Rafael Marques e Réver, mostraram entrosamento e começam a passar segurança para a torcida, enquanto o recém-contratado Júnior César, que foi para o jogo, entrou muito bem. Bernard ainda irá amadurecer mais e precisa aprimorar a finalização.

Um dos maiores erros do Atlético, sem dúvida, foi o afobamento e/ou apavoramento no momento das conclusões de jogadas de ataque, o qual mostra ainda certa falta de confiança para matar o jogo. Também está nítido a necessidade de, além de Guilherme, lesionado, um camisa 10 responsável pela criação e organização do ataque.


São nove meses invicto como mandante, sendo que a maior parte desta série se deu em Sete Lagoas, na Arena do Jacaré. A torcida ainda não voltou a abraçar completamente o time, mas aquela que tem ido a campo está cumprindo seu papel. Dentre esses torcedores, lá estava o atacante Diego Tardelli, autor de marcas incríveis no Atlético em 2009 e 2010 e que está jogando no Catar, mas é atualmente sócio-torcedor do Galo. Todos tem visto um Galo em franca recuperação de sua grandeza, apesar de todos os equívocos das diretorias anteriores e da atual. Vale lembrar, desde 1993 não se mantém um técnico por mais de um ano. Cuca completará um ano no comando alvinegro em agosto, caso até lá não aconteça os imprevistos que vem ocorrendo nos últimos anos na Cidade do Galo.

Vale lembrar, o Galo, neste ano, só perdeu para o Goiás, em Goiânia, por 2 a 0, pela Copa do Brasil. Do returno do Brasileirão 2011 para cá, além dessa derrota para o Goiás, a última derrota havia sido o 6 a 1 para o Cruzeiro na última rodada do Brasileirão. Claro que ainda estamos apenas no início do Campeonato, que é a única competição que o Atlético precisa se preocupar, o que também é bom. Mas, acrescente a isso o fato de que o Galo, na tabela do returno do Brasileirão deste ano, irá fazer a maior parte dos jogos cascudos, encardidos e de matar cardíacos em casa, inclusive o clássico contra o Cruzeiro. Se as contratações corretas forem feitas e o grupo se fechar em torno da disputa do título, o time terá todo o apoio da torcida, que irá lotar até os pontos cegos do Independência. O clube tem estrutura e profissionais à altura dos desafios, mas precisará de sabedoria. Sabedoria que um certo Cuca tem, afinal, não foi campeão brasileiro ainda, mas sim vice-campeão, pelo outro lado da Lagoa da Pampulha.

Hoje o Atlético está compondo um elenco que, se comandado por Cuca como está indo, pode almejar a disputa do título brasileiro e, de quebra, retornar à Libertadores. O retorno a Belo Horizonte tem feito muito bem ao time e, caso as vitórias venham e o time (re)conquiste a confiança da torcida, o Galo poderá crescer muito, inesperadamente. Por fim, torço para que os jogadores e a comissão técnica entendam que o time terá que jogar muito mais futebol do que vem jogando para almejar conquistas nacionais e internacionais.

Estrela Literaria - O gol, o goleiro, o craque, o boi... ou nada disto.




por Bruno Nöthlich 

Fustigava a grama como pelota na várzea. Também pudera era um boi! Quanto ao onde não se sabia: campo ou pasto? Sem dúvida são mais fáceis as escolhas do par-ou-ímpar, tem sempre o craque – um no máximo – e diversos pernas-de-pau, beques exímios nas violências consensuais do território e laterais oficiosos (desempregados mesmo), que mesmo desprovidos de quaisquer malícias, correm, correm, e como correm!, além de todo cansaço ordinário. O boi? Bem, este estará lá no campo pastando haja gente jogando, haja buracos de terra assaltando a sua grama. Às vezes mais de um único quadrúpede se vê ali. Às vezes são os goleiros. Pois nunca um boi de campo de várzea ajudou o miserável do goleiro. Desafio alguém a dizer de pé juntinho com o crucifico na mão fechada e beijando os dedos com força sacrossanta que já viu um boi pastando em cima da linha do gol. Acontece, é verdade, de encontrarmos esse pacato personagem na pequena área, que afinal de contas não é a toa recebe a alcunha de ‘zona do agrião’. Porém, entretanto, contudo, todavia... podem estar certos: a porra do boi vai atrapalhar o goleiro...
Eis, então, nosso caso. Armandinho Jacór, ajudante feirante, descendente de europeus eslavos, mais ou menos, e que todos na redondeza tinham como dogma de fé jamais ter deixado um único ovo cair de suas mãos, independente da quantidade de caixas que ele carregasse (e, olha, eram muitas!), resolveu após vários desafios e paqueras agarrar num certo dia escolhido. Reparem: Armandinho Jacór não tinha nada de bobo, ele esperou para alardear com tamanha esperteza e envolvente expectativa, que do mendigo ao dono do hipermercado todos juraram comparecer. E compareceram! Quanto ao boi? Bem, até que tentaram retirar do campo. Conseguiram só fazê-lo deitar na meia cancha direita, já numa subidinha de leve que fazia a bola rolar marota para a meiuca. O craque sabia disto, claro, os laterais e cabeças-de-bagre tentavam, o boi soberbamente ignorava.
Começou a pelejança. Assim mesmo sem apito, nem juiz. Quanto se fazia precisão era o povão que gritava foi falta, parô! parô!. Aí se não parassem! Sempre paravam, nem que fosse para discutir, falta, ô cacete, bradava o zagueiro grosso para um seguimento da geral, que por peculiar solidariedade local mesmo quando outra parte dos populares discordava, esta imediatamente virava a concordar, uma vez que por antropologias próprias desse lugar eram os “de fora” quem mandavam nos “de dentro”. Ao menos em termos das penalidades. (Magnânimo isso, não é?). No que vale aos dribles e passes, o oposto se via, e fácil ouvia-se vaitománucu! é você que está jogando?. O boi, no entanto, igual ao craque se concentrava em fazer o tão somente determinado pelo o destino: pastar. Ficavam moscando o tempo inteiro ambos os dois – sim! estilística e eufemisticamente ambos os dois no campo.
A bola ia e vinha, ia e vinha. O boi, o craque, também o goleiro, semimóveis. Ruminando, cuspindo, bocejando. De modos que para o bom andamento da crônica, o intelectual se intromete no meio do povão e grita passa a merda da bola pro boi, caraáálho!. O lateral entendeu e saiu correndo desbravado sem bola, mas com muita vontade e a certeza de que o companheiro iria cruzar. Assinala com o braço em riste, o craque assiste ao lance com absoluto desdém, o goleiro pela primeira vez fica tenso com um olho na bola e o outro no boi, que finalmente se levanta para o delírio da massa, o perna-de-pau ergueu sua queixada, viu o boi, calculou o passe espetacular por cobertura que certamente faria história naquele descampado, o lateral não parava de avançar nem mesmo para receber a bola e logo foi estufando o peito com possessões de é minha! é minha!, cruzamento feito, a magia futebolística haverá de se realizar, o boi caga no gramado, o bola vai praputaquepariu, o intelectual não compreende nada de coisa nenhuma, o craque desiste e abandona o jogo, feliz é do goleiro respirando aliviado a bosta e o mito, ou o mito da bosta, ou qualquer outro símbolo secularmente insignificante nos campos de várzea do futebol.
Armandinho Jacór não jogará novamente, continuará a carregar caixas de ovos sem frigir um sequer. O ajudante de feirante não caiu de quatro no pasto como boa parte do povão quis. Também não fez nenhuma habilíssima defesa e, assim, logrará por um tempinho de dizes-me-dizes de seus não feitos em campo. Depois tudo se esquecerão. Pois que até o boi pelota não lhe deu, nem a tirou. Armandinho Jacór será um nada, como todo sujeito tentativo de goleiro, que por não alcançar os ângulos meritórios nas mãos ou cair nas sumárias humilhações por entre as pernas, para que ele serviria à multidão? Não se gastem em responder. Porém, o boi no campo continua, permanecerá mítico, insignificantemente mítico. Fustigando a grama como pelota na várzea.


Moeda em pé - São Paulo 1 x 0 Bahia, estupenda contenda



Por Fernando Amaral, vulgo Quodores


As vezes - quase sempre, na verdade - o jogo no campo é a parte mais cacete do futebol. Mais chata, para resumir a parlenda. E esta frase não é minha, é do querido Demétrius Cruz, amigo doutro blogue que escrevo sobre futebol e comparsa na vida.

Digo isso porque o futebol é aquele trem bem mais complexo, que nem tese de doutorado, pós doutorado e o escambau a quatro pode definir. Sim, há idiotas de todas as matizes querendo o óbvio, que é reduzir a brincadeira ao que rola no campo, com simples frivolidade, como algo importante dentre as cousas desimportantes. Se ofendi, perdão. Aos idiotas, o meu perdão.
O ludopédio, a brincadeira, o futebol é a tampa da mesa de ferro do boteco da esquina. Ou do boteco na faculdade, no boteco da beira da praia, no boteco de qualquer confim do mundo. É o campo de botão, seja o Estrelão, a mesona oficial toda garbosa ou o chão. É a figurinha do bafo. É o craque, o perna de pau, a dor da derrota, o gozo da vitória, a torcida, o rádio, a pelota, a vizinha toda nua tomando banho de sol na varanda. Ou o vizinho, dependendo sempre do que cabe a cada um neste latifúndio de vontades e desejos – o único latufúndio produtivo, aliás.

O futebol é tirar onda, sarro, zoar, pentelhar o cara que torce pelo outro time. É torcer contra time brasileiro só porque não quer ter aquele infeliz lá do trabalho a lhe aporrinhar o saco. É mistério. É torcer escondido pelo gol do craque. É dizer a maior besteira do mundo sem culpa sobre quem foi, é e será melhor em campo, na história, na pelada da rua. É rabiscar nos intervalos de aula, durante o almoço, antes de dormir, esquemas táticos e escalar equipes maravilhosas. É chamar o treinador de renomado imbecil mesmo sabendo que nunca gostaria de estar no lugar do cara. É comprar ingresso para apupar jogador e depois pedir autógrafo para este mesmo infeliz. É a terra da hipocrisia permitida, porque brincadeira.

Mas brincadeira séria, se é que existe brincadeira que não é séria. Não venham dizer de arena multiuso, ar condicionado, cadeira com pantufa ou qualquer dessas imundícies. Já proibiram a cerveja, a bandeira – bom, aqui em SP, a terra onde não há amor, bandeira é proibida - e o sanduba de mortadela. Até o pernil na porta do estádio andam regulando, tratando de proibir o que a vigilância sanitária poderia regular. Imbecis, completos.

Escrevo estas linhas, que para muitos podem ser míopes de coração, para iniciar os trabalhos aqui neste blogue de futebol. Futebol como o trem, não como aquele joguinho de onze contra onze numa arena repleta de perfume de alfazema com narração do Galvão Bueno. Escrevo para afirmar que não há nada mais divertido, nada mais terrível, doído, alegre, nauseabundo, entorpecente do que o trem. Nem beijo na boca de quem se quer muito e se tinha dúvida da reciprocidade. Quem já fez gol no último minuto de uma peleja sabe do gozo. E quem já perdeu nos acréscimos sabe, mas sabe mesmo, sabe em todas as letras, hipóteses e hipotenusas o que é a morte, em pessoa.

Nos periódicos sobre o meu time ontem, e time todos sabemos essencial ao trem, porque sem time se pode até conhecer mas nunca experimentar o bagulho, as notas são fidedignas ao que foi o espetáculo: um jogo fraquinho, muidinho, bobinho, mas com os dois times com alguma raça e Luís Fabiano no lugar que um centroavante deve estar. 

Porém, sempre há um porém, as notas também dizem do público ridículo, de dez mil testemunhas numa tarde de sol na cidadela piratininga. Ah... fundamentais notórios especialistas caga regras e outros que tais... da milonga vocês não entendem nada. Entre as testemunhas, estávamos lá este escriba e a prole. E a paixão está nascendo aí, nesses detalhes, nessas linhas, nessa bobagem. O jogo? Foi ruinzinho. Mas o “Pai, tiraram o Piris, finalmente. Entrou o Rodrigo Caio”, com ênfase no “finalmente”, foi do balacobaco. 


E, por fim, Fernandinho, meu querido, correr faz bem para a saúde, sem dúvida. Mas futebol, futebol é outra cousa. 



28 de maio de 2012. Segunda rodada do Brasileirão de 12.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Leiteria - Orgulho de ser tricolor

Por Gilson Moura Junior

Ontem nossa vitória foi inenarrável, mágica, mística, imensa. 

Ontem vencemos de uma forma que o poucos verão ou veem normalmente, vencemos com força, com raça, com coragem, com alma. Vencemos como quem antes de mais nada sabe o significado das três cores que traduzem tradição.

Vencemos como mais que ufanistas, que amantes acríticos, que idiotas felizes em participar de turbas anencéfalas e cuja maior lembrança do time é de fazer parte da "maior torcida do mundu".

Vencemos ontem, vencemos sim, vencemos porque para além do placar ganhamos a nós mesmos, nós, o time, o olho, o Abel.

A classificação? foi do imenso Boca, imenso, respeitado, gigante, tão gigante que não precisava do jorro coletivo de babação que recebeu após achar um gol ao fim. A vitória? Foi nossa. Não, não vencemos nem o jogo jogado, apesar de imensamente melhores que o adversário gigantesco, fomos melhores e perdemos, como antes ocorreu o inverso tantas vezes. Fomos melhores e caímos diante de um gigante, um gigante que nos acostumamos a enfrentar de igual pra igual, sem tremor nos olhos ou na alma. 

Vencemos não no jogo, não no placar ou na competição, mas no orgulho de sermos parte desta três cores, três cores que traduzem mais que tradição, mas honra, coragem, entrega.

Vencemos, Senhores e Senhoras! Vencemos e temos de estar orgulhosos dessa vitória.

Domingo tem jogo, mais uma taça pra disputar e trazer pra casa.

Não é hora de luto! É hora de orgulho, honra e amor!

É por isso que eu canto, que visto esse manto, orgulho de ser tricolor.


quarta-feira, 23 de maio de 2012

Gazeta Mundo Cão - Sexy Hot* & injustiçado

                 Por Ane Brasil                                                                                                                                

Era um domingo tedioso qualquer de 2009 e a minha cerveja estava estupidamente gelada. Tinha futebol na TV e... que mais pode uma mulher querer de um domingo tedioso? Ah, sim, meu time ganhando. O jogo era no Beira Rio e, diante da derrota do Grêmio a macacada pedia em coro: Fica Celso Roth! Fica Celso Roth.

Sim, Celso Roth, o então técnico do Grêmio estava num cai-não-cai por conta de uma campanha irregular no time rival. Ao ver aquele mar vermelho ovacionando o sujeito eu pensei: pobre diabo.

Quando a TV focou o banco do Grêmio só pude ver um tiozinho atarracado, meio carrancudo, compenetrado num time composto, essencialmente,  por cabeças de bagre. Ele parecia imune à provocação da torcida colorada. 

Por alguns segundos um sentimento de compaixão - talvez provocado pelo álcool - percorreu meu ser... apesar de ser gremistas (sic) o tiozinho antipático não merecia tanto.
O óbvio aconteceu: Celso Roth não ficou, fez suas malas e foi nem sei pra onde.

Passado um ano, se tanto, o mesmo sujeito casmurro é anunciado como o novo técnico do Internacional, substituto de ninguém mais ninguém menos que Abel Braga. Meu mundo caiu. Como assim, Celso Roth? Sim, ele mesmo! Imaginava o sujeito casmurro fazendo uma carinha marota ao perguntar: ué, não foram vocês a gritarem "fica Celso Roth? cá estou eu".

E lá estava ele mesmo. E para comandar um time de excelente qualidade técnica  (Rafael Sobis, Alecsandro, Guiñazu, Tinga, D'Alessandro...)E qual não foi a surpresa de ver o time avançando na Libertadores e foi indo e foi indo e ... e estamos na final e ... e Sexy Hot estava sorrindo na beira do gramado. Uau! Rafael Sobis dança frevo, ganhamos a Libertadores, houve festa nas ruas e gente correndo para as colinas.

 Sim, Celso Roth era um técnico retranqueiro, antipático com a imprensa, duro com os jogadores... era um sujeito a ser detestado, mas, com a boa fase do time e o título inédito, passou à condição de queridinho da torcida.

Porém, como reza a lei de Murphy, tudo o que é bom dura pouco: a retranca passou a não funcionar  mais, o time foi perdendo potencial ofensivo... e, no meio do caminho, havia um GRE-NAL. E o destino foi irônico e cruel com Celso Roth, que, pela segunda vez, ouviu um estádio lotado gritar "FICA CELSO ROTH'... mas, dessa vez, o estádio era o Olímpico e era a torcida do Grêmio que entoava o cântico maldito. E, de novo, o óbvio acontece: não ficou.

E então, como uma piada de mau gosto, leio a notícia da contratação de Celso Roth pelo Grêmio!

E por que diabos eu estou contando essa história mesmo? Ah, sim, por conta da ingratidão de Inter e Grêmio: desde a década de 90 que o sujeito vai de cá pra lá e de lá pra cá, tanto um quanto o outro tem títulos conquistados sob o comando de Celso Roth... mas só lembram de ovacioná-lo quando estão na torcida adversária.


* Sim, eu adoro o trocadalho do carilho com o nome do sujeito


O campinho da Aldeia Velha - Sonho Estranho

Por Victor Freire

Engraçado. Tive um sonho estranho hoje.

Sonhei que estava assistindo um treino do Santos F.C. (não, por incrível que pareça, não era do Santa Cruz). Mas haviam significativas diferenças em relação à vida real. Este Santos estava sendo comandado pelo "pofexô" Luxa. E o treino estava sendo conduzido em um terreno baldio, de terra batida, mal cuidado e onde se podiam ver pedras soltas e cacos de telha e de lajotas de cimento aqui e ali. Parecia com os campos onde (vez ou outra, nunca fui fominha por bola) batia pelada com os amigos ou os moleques dos bairros lá de Arcoverde.

Luxemburgo, de uma maneira que me impressionou muito, não estava com a sua típica arrogância. Segurava uma bola embaixo do braço, uniforme de comissão técnica, tênis nos pés, olhar grave. Aguardava os jogadores chegarem ao local de treino, de forma displiscente, aos bolos (pequenos), enquanto iam formando um círculo para a preleção inicial antes do início das atividades.

Deduzi, por algum motivo estranho, que aquela seria uma manhã, cedo, de segunda ou quinta-feira, pós-rodada. As palavras do treinador ao seu grupo só vieram confirmar minhas impressões: Luxa deu uma bronca enorme no time por causa de uma derrota sofrida no dia anterior. Chamou-os de preguiçosos, cobrou empenho, profissionalismo e dedicação dos jogadores. Lembrou-os de que o principal propósito de estarem jogando bola é de proporcionarem resultados e satisfazer a torcida. Dispensou o grupo e ficou supervisionando a realização de um treino tático.

Fui comentar qualquer coisa com o treinador do alvinegro praiano, e ele me disse de forma assertiva: "Tem de cobrar mesmo desses caras. Eles estão muito relaxados, entrando em campo achando que só isso é a obrigação deles. Não pode ser assim".

Eu pessoalmente sou da crença de que sonhos podem revelar aquilo que nós consideramos formas ideais, apesar de eu não ser exatamente um grande admirador do time do litoral paulista e menos ainda de um treinador tão controverso quanto o dito cujo. Mas naquele momento hipotético Luxa encarnou aquilo que eu considero como a forma ideal de um treinador após um momento de derrota: capaz de identificar a fraqueza de um grupo, chamar-lhe a atenção, e acima de tudo com um compromisso com os objetivos de toda organização esportiva de caráter competitivo - vencer competições.

Imagem meramente ilustrativa.
O grupo também mereceu um destaque: não havia ali demonstrações de estrelismo ou vaidade quando tomaram a esparrela de seu treinador. Todos ali permaneceram calados enquanto o chefe passava suas impressões, embora nem todos parecessem concordar com ele. Ao final, cada um voltou para seus afazeres enquanto jogadores em treinamento.

Putaria - sim, esta é a palavra que pode ser usada pra definir os critérios de acesso, descida e participação das equipes nas séries C e D. Nos últimos dias, ambos os campeonatos foram assolados por uma enxurrada de ações judiciais de equipes que queriam delas participar, ou não, mas sempre a fórceps. Em diferentes casos, estiveram envolvidos o Rio Branco (AC), Brasil de Pelotas, Treze (PB), Santo André e outros tantos.

Tal situação revela a quantidade de erros de concepção e gestão da CBF, de uma forma tão exarcebada que nos faz pensar se isso não é de propósito. Qualquer dia desses gostaria de sonhar com as divisões inferiores do campeonato brasileiro com mais qualidade, organização e clareza nos seus regulamentos. Mas já serviria (que remédio!) a subida do Santa pra Série B.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Leiteria - Tá no Sangue

Por Gilson Moura Junior

Na quarta-feira teremos um daqueles jogos que positivamente faria um torcedor comum tremer de medo, suar frio, entender a dor do tenebroso dom da realidade em passar a perna no sonho. 

Nós, no entanto, desacostumados ao comum, olhamos no olho do pavor, do fim, da beira do mundo derramando mar num caos invisível e sorrimos aquele sorriso de "E, dai?". 

Não somos feitos do comum, é vero, no entanto também não sambamos Martinho da Vila na Ópera ao sentarmos em cima de uma confiança tola numa classificação. Não faz diferença, nós sabemos o Fluminense, nós sabemos o olhar daqueles que tem as três cores que traduzem tradição tatuadas na alma, nós sabemos que veremos o Fluminense em campo, o Boca também verá, pode até nos superar em placar, vencer o jogo, mas não superará o que é o Fluminense, aquele que distorce os parâmetros do comum.

 O Boca, o mundo, verá novamente aquilo que torna o futebol algo admitido como um parâmetro do real independente de leis que Newton já dizia. Tá no olho do Abel, tá no Gol de Leandro Euzébio no último fim de semana, na explosão do menino Wallace, na coragem do garoto Marcos Junior, nas câimbras do menino Fábio Braga.

Tá no solitário gol da primeira vitória dentre tantas neste Brasileirão 2012. Tá na alma do torcedor que sorri por saber-se batalha, que sorri por saber-se muitos, por saber-se não apenas uma pálida visão do clichê banhada na descrença de rivais que , tolos, ignoram a história, o mundo onde se os fatos nos diminuem, pior pros fatos.

Na quarta-feira teremos mais uma vez ele em campo, a camisa tricolor carregada por abnegados atores, que tidos como reservas nos causam alegria do desafio.  Podemos cair, podemos perder, podemos morrer, mas assinaremos na alma de cada um o temor de desafiar-nos a alcançar o impossível.

Tá no olho do Abel, tá na alma, tá no sangue.

domingo, 20 de maio de 2012

Solucionática: o impossível se faz possível no futebol em 2012

Lucas Morais

Termina mais uma temporada na Europa. A temporada 2011-2012 foi um presente enorme para os fãs da bola.

O Athletic Bilbao, maior e mais representativo clube do País Basco e a luta por independência deste povo face ao Estado monárquico espanhol, fez uma campanha regular na Liga Espanhola e disputou a final da Liga Europa com sua histórica “filial”, o Atletico de Madrid, que foi fundado por estudantes bascos em Madri em 1903. O time basco, fundado em 1898, somente com jogadores de origem basca e sob o comando de “Loco” Bielsa, perdeu a final após uma brilhante campanha, que contou, inclusive, com a vitória sobre um Manchester United completo, com todos seus titulares em campo, sob comando de Alex Ferguson, para um Atletico comandado pelo matador colombiano Falcão. Doloroso para os bascos, mas deu a lógica: o Atletico havia feito uma campanha invicta e com maior número de gols na Liga Europa, além de boa uma campanha na Liga Espanhola.
No Estado espanhol, o incrível Barcelona do argentino Lionel Messi, dos meias catalães Xavi Hernández e Andrés Iniesta e comandados pelo também catalão Pep Guardiola, entrou meia-bomba na temporada, sem Villa, contundido, com várias transições, como o retorno do meia catalão Cesc Fábregas e a introdução do atacante chileno Alexis Sánchez, com sua zaga frequentemente machucada, com muitas limitações neste setor, mas, ainda assim, este time chegou às semifinais da Liga dos Campeões da Europa, levou Messi a bater o recorde de La Liga, com 50 gols, mas ficando atrás e perdendo em casa para o arquirrival, o Real Madrid, que também morreu nas semifinais diante de um resistente Bayern.


Se os clubes comandados por José Mourinho e Pep Guardiola passassem, poderiam ter disputado entre si a final em um inédito El Clasico na final da Liga dos Campeões. Para compensar, o time de Madri levantou a taça espanhola alcançando o recorde de 100 pontos, com mais uma ótima campanha do goleiro espanhol Iker Casillas e com um tridente ofensivo imbatível, com o português Cristiano Ronaldo, o francês Karim Benzema e argentino Gonzalo Higuaín tendo feito 82 gols na temporada, com o meia alemão Mesut Özil alternando com o brasileiro Kaká e o argentino Di María no meio campo.

Na Itália, a Juventus, invicta, volta a ser protagonista e retorna à Liga dos Campeões, na qual participou mais de vinte vezes. Trata-se de um time forte, complicado, cascudo, encardido, mas com muita qualidade, com Vucinic, Pirlo, Matri, Alessandro Del Piero e o goleiro De Sanctis em destaque. Empata muito e tem o hábito de ganhar com um gol de diferença. Virada é goleada. Essa é a Velha Senhora se reerguendo. Inclusive, disputou o jogo final pela Copa Itália contra o Napoli, do eslovaco Hamsik, do atacante uruguaio Cavani e do atacante argentino Lavezzi, que, ao menos, levantaram esta taça neste ano e salvaram a lavoura, além de quebraram a série invicta da Juve. Pela Liga dos Campeões da Europa, o time da cidade de Nápoles foi eliminado pelo atual campeão, Chelsea. Com um elenco envelhecido, o Milan, apesar da artilharia do sueco Zlatan Ibrahimović, morreu nas quartas de final da Liga dos Campeões diante de um Barcelona envolvente, mas enfrentou com muita dignidade. No campeonato italiano, disputou até o final, mas não foi capaz de se recuperar dos tropeços, igualmente à Internazionale de Milão que, ao final da competição, ressuscitou parte de seu futebol, mas também precisa de renovação em seu elenco. A Udinese mais uma vez encostou entre os primeiros colocados.

Na Alemanha, deu, mais uma vez, Borússia Dortmund, com mais uma brilhante atuação do meia japonês Kagawa, de saída para o Manchester United, o jovem atacante Mario Götze e o atacante paraguaio Lucas Barrios. Campanha impecável e irretocável na Bundesliga, enquanto o Bayern, vacilante, ficou com o vice-campeonato. Schalke de Gelsenkirchen e Borussia Mönchengladbach fizeram boas campanhas e revelaram mais jogadores, como o excelente atacante alemão Marco Reus, do Mönchengladbach.

Na Inglaterra, o “novo rico” Manchester City sofreu muito ao ver por duas vezes sua campanha, que dependeria somente de si mesmo, já que estava na liderança, ir para as mãos do maior rival durante a Premiere League, mas, após 44 anos, o meia marfinense Yaya Touré, o atacante argentino Kun Agüero, o atacante italiano Mario Ballotelli, o meia espanhol David Silva, o meia francês Samir Nasri, comandados por Roberto Mancini, dão o título ao Manchester City, tirando finalmente o título do rival Manchester United que, ano sim ano não, levanta a taça, em um jogo desesperador contra o Queen's Park Rangers na última rodada, quando sofreu dois gols e precisou fazer uma heróica virada no último lance, dos pés de Balotelli para Agüero, que sofreu falta mas insistiu e conseguiu o inacreditável, inenarrável, fantástico e decisivo gol.

A final: F.C. Bayern München vs Chelsea F.C.

O jogo foi muito estudado, como um xadrez, com ambos times anulando as principais jogadas. Robben não decidiu. Mario Gómez, sempre muito marcado, não se libertou e teve poucas chances. Müller, que não vinha bem no jogo, fez um “segundo Mário Gómez” e conseguiu cabecear ao chão em frente de Cech, que não conseguiu a defesa.

O marfinês Didier Drogba, que parece mesmo ter nascido para decisões, em mais uma partida histórica fez o gol do empate aos 88 minutos, no alto, numa bola de escanteio, quando a partida já estava encaminhada em teoria e a torcida do Bayern comemorava. Depois deste gol, Drogba comete um pênalti infantil no atacante francês Frank Ribéry, e o tcheco Peter Cech, mitológico, acerta o lado, defende o pênalti do atacante holandês Arjen Robben e coloca o Chelsea.

Recorreu, jogando fora, a um futebol defensivo e cauteloso. Armou o ferrolho. Contra o Barça, deu certo. Naquele jogo contou com muita sorte, marcação, nervosismo e a categoria de Ramires e o inesquecível gol de Fernando Torres, no Camp Nou.

Pênaltis

Lahm fez. Mata, não. Gómez fez e David Luiz foi categórico. Neuer e Cole fizeram com tanta perfeição que, enquanto a bola não encontrava as redes, a impressão era de que ambos errariam. Emoção total a cada décimo de segundo. Eis que, Schweinsteiger, que se recuperou há poucos meses de uma grave lesão no joelho e esteve muito bem por todo esse jogo, manda na trave, com paradinha antes, tentando tirar do Cech. A torcida do Bayern desaba. Então, Drogba portando a incontingência do gol, mandou forte no canto, canto oposto do escolhido por Manuel Neuer. Decisivo, afinal, foi sua vida e sua razão de viver em jogo.

Ramires, que não pôde jogar a final pelo Chelsea, por estar suspenso, cobriu-se com a bandeira do Brasil já pensando em quando seu filho poderá assistir seu mágico gol e entender o que representou aquela virada, com um a menos, sobre o Barça, no Camp Nou, na vitória da semifinal que habilitou o Chelsea a disputar a taça com o Bayern.

O meia brasileiro confessou, em entrevista aos repórteres da ESPN Brasil, que assiste todos os dias seu gol encobrindo categoricamente o goleiro catalão Victor Valdés.


quinta-feira, 17 de maio de 2012

Leiteria - Nine out Ten

"Walking down portobello road to the sound of reggae...

I'm alive..." *

É uma sensação, um grito, algo dito como que pela pele. Não sei, algo me diz que o Fluminense vencerá. Estamos sem o 9 e o 10. Estamos sem o 5, sem o 8. Estamos com os não vistos, os sumidos, os desacordados, aqueles que saem do porão, como Mickey em 1970, como Tartá em 2010, como Adriano Magrão em 2007.

É uma sensação, um espirro de presunção cassândrica.

Parece que teremos diante de nós um Golias, e hoje somos um David, um David ferido, não por ser fustigado pela mídia, pelos rivais, pelo desprezo por nosso modo de jogar, por nossa cara de alvo pintada na ponta de um canhão calibrado, mas por termos partes nossas, partes fundamentais, na convalescênça que a violência adversária acabaria nos colocando.

Parece que nove entre dez analistas, nove entre dez rivais, nove entre dez argentinos, nove entre dez torcedores nos vê como derrotados, como que no fim de nossa estrada.

E isso me lembra 2007 e isso me lembra Petkovic dizendo que se o Fluminense não vencesse em 2010 jamais venceria, me lembra 2008 quando nove entre dez habitantes do planeta bola nos dizia que jamais o Fluminense venceria um campeão da Libertadores.

Isso me lembra que estamos em Buenos Aires com Wagner e He-Man, como já tivemos Adriano Magrão, Tartá e Mickey, como já fomos patinhos feios, como quem não quer nada.

Hoje o Boca é Favorito e isso é bom.



* Trecho inicial da Canção "Nine Out Ten" De Caetano Veloso, gravada no disco Transa...