Por Paulo Ferraresi Pegino
Um dos momentos mais marcantes para qualquer são paulino com mais de trinta anos aconteceu certamente em 1992, pouco depois dos 34 minutos do segundo tempo do jogo São Paulo e Barcelona, no gélido dezembro de Tóquio. A bola ainda procurava o melhor lugar para descansar dentro da meta do grande Zubizarreta, quando Raí iniciara sua corrida em direção ao mestre Telê Santana. Corrida em linha reta, com o olhar fixo e com uma emoção contida, certamente penosa para ser segurada. Nenhum gesto de comemoração. Raí sabia que os melhores momentos daquele time deveriam ser dedicados ao mestre, e aquele, claro, era um desses momentos. Só foi esboçar um sorriso quando atravessou a barreira formada por colegas e finalmente alcançou um Telê ainda tenso com o restante do jogo que viria.
Um dos momentos mais marcantes para qualquer são paulino com mais de trinta anos aconteceu certamente em 1992, pouco depois dos 34 minutos do segundo tempo do jogo São Paulo e Barcelona, no gélido dezembro de Tóquio. A bola ainda procurava o melhor lugar para descansar dentro da meta do grande Zubizarreta, quando Raí iniciara sua corrida em direção ao mestre Telê Santana. Corrida em linha reta, com o olhar fixo e com uma emoção contida, certamente penosa para ser segurada. Nenhum gesto de comemoração. Raí sabia que os melhores momentos daquele time deveriam ser dedicados ao mestre, e aquele, claro, era um desses momentos. Só foi esboçar um sorriso quando atravessou a barreira formada por colegas e finalmente alcançou um Telê ainda tenso com o restante do jogo que viria.
Era madrugada no Brasil, e o
senso de responsabilidade de torcedor (que nada!) me obrigava a acordar toda a
vizinhança, num raio razoavelmente grande de casas, com um grito de gol que me
deixou rouco por dias seguidos. Na manhã seguinte, estampado no jornal que meu
pai religiosamente comprava todos os finais de semana, a célebre frase do então
técnico da esquadra blaugrana, Johan Cruyff: “fomos atropelados por uma
Ferrari!”
Sem falsa modéstia, a analogia
foi perfeita. Afinal, significava e traduzia o ápice de um trabalho coletivo
bem feito, arquitetado pelo saudoso mestre, montado para vencer jogando bem e fazendo
gols, e que transformou em uma “Ferrari” um bando de jogadores que em sua maioria
nada eram além de comuns (todos craques para nós são paulinos, claro). Lá se
vão vinte anos...
Essa semana a torcida são paulina
foi novamente “agraciada” com a analogia da Ferrari. Wagner Ribeiro, agente-empresário
de Lucas, disse que seu pupilo era uma “Ferrari mal dirigida”. A frase foi uma resposta
às críticas construtivas recebidas pelo jogador em função de más atuações nos
últimos jogos. Sem saber lidar com elas, o jovem Lucas ficou magoado e
desabafou no twitter. O empresário agiu rápido e o recado foi claro: seu menino
está pronto e é craque. O São Paulo, a instituição, o técnico, seus
companheiros, são obstáculos à sua arte sublime e apenas o atrapalham. A frase
repercutiu.
Talvez Wagner Ribeiro tenha
razão; assim como a Ferrari de Telê, sua Ferrari também conquistou o mundo, afinal
de contas o twitter de Lucas pode ser lido desde a Sibéria até a Califórnia. Não
só isso, o menino prodígio também coleciona outros feitos: possui sua própria
legião de lucazetes e é figura comum em eventos midiáticos de grandes
proporções, como encontros com príncipes europeus e participações em programas globais
de auditório. Não à toa, desfila suave ao lado de nomes consagrados como Ronaldo
e Neymar. Com vasto currículo e nobres conquistas, o self-made man do Wagner
Ribeiro nada mais tem a aprender no futebol.
De besta, o empresário só tem a
forma de se expressar. Percebeu a chance de abiscoitar uns muitos trocados com
a situação colocando jogador contra time e torcida. E o raciocínio é simples:
quanto mais transferências, mais comissões. Forçar a saída do jogador é um
negócio lucrativo, mesmo que para isso tenha que usar covardemente seu pupilo,
colocando-o em uma situação que gera mal-estar com clube, colegas, torcedores e
técnico. De quebra, ao mimá-lo em público e blindá-lo de críticas, o empresário
reforça o vínculo subjetivo construído com base em uma relação paternalista e
altamente danosa para o jogador. Em outras palavras, se posiciona como o
pai-conselheiro e amigo, “parceirão” sempre disposto a protegê-lo.
Mal percebe o jovem jogador que ao
se deixar levar pelos elogios interesseiros de seu empresário e ao não
aproveitar as críticas para melhorar seu futebol, pode acabar como mais uma de
tantas promessas do futebol brasileiro. A “Ferrari” pode ter um destino pouco
nobre: talvez acabar encostada na garagem de um time de segundo escalão do
futebol europeu, ou ainda, acabar em algum XV de Piracicaba, como bem lembrou o
Menon acerca do caso do “Messi brasileiro”, uma das recentes descobertas desse
mesmo Wagner Ribeiro.
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