sexta-feira, 6 de abril de 2012

Leiteria - Era uma vez Flamengo...

Por Gilson Moura Junior

Não é surpresa pra ninguém que não nutro amores profundos pelas cores rubro-negras em geral e em especial pela vestida pelas hostes Flamengas. Minha relação com o Flamengo , apesar de variada, nunca foi a de amor. 

Já tive rivalidade mais amistosa e saudável e o ódio supremo, avalio que a maior parte de sua torcida é de uma arrogância incomparável, inclusive algo que é fomentado até por parte majoritária da imprensa e que chega até a infectar jogadores que muitas vezes sobem em um salto Luís XV e acham que berrando "Flamengo é Flamengo" abrirão defesas como Moisés abriu o mar vermelho.

Já fui capaz de torcer para o Flamengo em final contra o Vasco de Eurico, por um eco tanto da rivalidade antiga contra o clube da cruz de malta e a mania de sua torcida de culpar todas as gerações pelo racismo de antepassados tricolores quanto da política futeboleira em si, dado o câncer que representava a figura de Eurico Miranda.

Já respeitei mais inclusive sua torcida, até novas gerações criadas a leite de Pera com Globo, que cria torcedores que fingem ignorar passados, tamanhos, histórias e glórias alheias em nome de um "nacionalismo" clubeiro tão imbecil que dá dó.  E deixemos bem claro que isso não é monopólio Flamengo, ouso dizer que o Fenômeno é global, tendo maioria em quase todas as torcidas, mas não se pode ignorar que o tamanho das hostes do império do Mal leva aos píncaros da explosão do saco a relação com os representantes do torcedor pachecão "Flamengo é Flamengo".

Hoje nutro profundo respeito por alguns raros Flamenguistas que dialogam sobre futebol com calma e tranquilidade, e que saem do lugar comum do oba oba do "Flamengo é diferente", como se todos fossem iguais.

Apesar disso tudo me surpreende a redução do Flamengo a um clube que se contenta com campeonatos estaduais e que conquistou um Brasileiro apesar de si mesmo. Me surpreende como um clube do tamanho e da importância do Flamengo tornou-se um clube que só fomenta com galhardia arroubos arrogantes de sua torcida, arroubos que ecoam a década de 1980 enquanto vence estaduais e  deixa sua torcida feliz por ganhar clássicos enquanto despreza torneios de máxima importância alegando que "Flamengo é Flamengo".

Me surpreende que ainda sua torcida seja estimulada por declarações absurdas de seus dirigentes a manter um comportamento que adota o discurso quantitativo de seus adeptos pra desprezar a Libertadores e a história de gigantes sul-americanos como o Olímpia e "discutem" com qualquer argumento racional dizendo que o "Flamengo se quiser ganha libertadores todo ano" quando monstros como SPFC e Santos com suas três conquistas suaram sangue em todas elas para tal, e nem falei de gigantes como Boca Junior, Independiente, Nacional do Uruguai, Peñarol, que tem muito mais títulos que o famoso Rubro-negro da Gávea, que ainda não aprendeu que não joga sozinho nos campeonatos que os rivais não tão batendo palma pra maluco dançar.

É triste como a ala rubro-negra da família Karamazov resolveu regredir, desmodernizar, tornar-se de novo aquele clube que remava com sede na Paysandu e inverte a lógica que ele mesmo subverteu ao tornar-se com Zico um clube mundial e ampliar com garra e raça sua nacionalidade. Enquanto Flu, Vasco e até a famosa quinta-força lacrimosa buscam ir além das fronteiras da cidade maravilhosa e conquistar a América, quiça o mundo, o Flamengo hoje se contenta em pensar no Resende para se classificar pras semi finais da Taça Rio. O que que há minha gente? Que pasa?

Cadê aquele bando de mala mulamba que enchia o saco? Onde está aquilo? É isso mesmo? Virou sesse bloco de sujo movido à arroubos e vendo seus rivais desafiando até emissoras e o poder da grana que ergue e destrói coisas belas e avançando pro infinito e além?

A rivalidade não é feita apenas para loucos se matarem, namorados brigarem ou amigos trocarem ofensas me mesa de bar, ela fomenta a grandeza e o crescimento dos clubes e o Flamengo acreditou na fábula de sua grandeza infinita e que independe do suor diário, até esperando que o mundo tivesse sempre árbitros da FERJ. O Flamengo está abrindo mão de sua grandeza em nome de uma conversa de faroleiro, em nome de uma piada que chama de "ilusão" uma enormidade chamada Libertadores.

O Flamengo conquistou com méritos seu status de maior torcida do país, conquistou com méritos parte da marra que enverga nas quebradas, nas esquinas, no corpo dos exus nus sem turistas dos subúrbios e no corpo das moças douradas expostas das praias da Zona Sul, mas vê-se apequenar nas mãos de administrações que abusam dos factoides enquanto triplicam a divida do clube, brincam de profissionalismo e  conseguem ser a maior marca do país sem patrocínio pelo segundo ano seguido.

Enquanto isso todos os demais clubes do Rio e do país  aos trancos e barrancos, com erros e acertos, buscam se profissionalizar a sério, com gestores específicos pra gestão do futebol, com marketing, com suporte a torcedores em viagens, com agências de viagens próprias, com uma busca por patrocínios ou co-gestões que ampliem o arco de investimentos.

Enquanto no país inteiro e também no Rio os clubes se organizam pra enfrentar-se, o Flamengo e sua Patricia usam o "Flamengo é Flamengo" como mantra ocultador de incompetências e fica pra trás como um asilo de ex-jogadores e trata seus torcedores como idiotas ao ver um técnico que ousou desprezar a Libertadores se comparando a Alex Fergunson.

Não amo o Flamengo, não preciso nem dizer isso, mas o respeito. E amo alguns rubros-negros espalhados pelo mundo e pelo coração e é triste vê-los como estão, jogados ao largo de sua paixão, tornada o amargor do fel porque técnico, dirigentes e jogadores cismam em cantar o Hino como uma fábula, como se fosse "Era uma vez Flamengo...".

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