sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Campinho da Aldeia Velha - As lições que Cruijff dá


 Por Victor Freire

Meu último texto sobre Zé Teodoro no Santa Cruz acabou mexendo com as teias do destino, ou causando uma falha no código da Matrix: foi eu escrever para o dito cujo perder um jogo. Ganhou uma penca de outros, é verdade, mas continuou cometendo erros primários, que nos custou um clássico fácil contra uma coisa do mangue vinda de uma derrota vergonhosa para o Paysandu (para o Paysandu, porra!) e uma primeira partida de semifinal contra um Salgueiro de nível técnico fraquíssimo.

Zé Teodoro segue firme na sua decisão de continuar usando 3 zagueiros, 3 volantes e manter a postura do time recuada. Dando o devido desconto de quem acompanha os jogos do Santa de (muito) longe, a equipe parece raramente cruzar o território além da linha de meio campo, onde até mesmo os fracos podem ter vez, desde que tenham ousadia. O resultado é um time burocrático e até mesmo burro: quando ataca, o faz de forma desorganizada e não-efetiva. Quando defende, que deveria ser o seu forte (que remédio!), o faz de forma desorganizada também e aceita, complacentemente, um ataque adversário que seria facilmente evitado.

O comandante coral poderia tomar algumas lições com um jogador e técnico que, a meu ver, revolucionaram o futebol mundial: Hendrik Johannes Cruijff. Fala-se muito do carrossel holandês de 74 que encantou o mundo, mas suas raízes estão no Ajax de 69 a 73, vitorioso e campeão mundial de clubes em 72. Embora Cruijff tenha sido apenas jogador nesta época (o técnico era o também genial Rinus Michels), ele foi peça crucial na aplicação do sistema em campo, e repetiu a dose quando foi técnico.

Todo mundo fala de como os jogadores holandeses se dispunham em campo sem posições físicas, rodando e confundindo adversários, o que é uma definição simplória do que é, de fato, o futebol total. Desse jeito, parece que todo mundo joga na louca, de forma pior que futebol de zona rural. Poucos estudiosos (e não inventores, viu, seu Zé?) realmente pararam pra estudar o que de fato é este sistema tático: ele é simples, porém não simplório; proativo, mas não necessariamente atacante; de pressão, mas não displicente.

O sábio de Amsterdam dizia, de uma forma que considero muito correta: “O futebol simples é o mais bonito. Mas jogar simples é a coisa mais difícil”. É o que diferencia os verdadeiros gênios da tática de qualquer outro treinador. E um dos muitos sucessores espirituais de Cruijff no futebol catalão (onde este se estabelecera nos anos 80 e 90), Pep Guardiola, escreveu em 2007 a respeito do Barcelona, conhecido por aplicar um futebol parecido: “No Barcelona se entende que se pode vencer de mil maneiras. Todas são válidas. Todas funcionam. Não é preciso dizer muito mais que isso. Mas também se compreende que não se pode vencer e repetir o modo de vencer de uma forma que não parece certa pra você – e para os diretores, preparadores, jogadores, amigos e todos aqueles que vão assisti-los toda semana”.

O sistema de futebol total não é perfeito, no entanto. Beckenbauer e a Alemanha de 74 souberam como pará-lo, com uma marcação forte em cima daquele que era seu pivô. A evolução dele, o chamado "tiki-taka" espanhol, foi parado, ironicamente, pela marcação fortíssima do também alemão Bayern München. Isso, no entanto, não desmerece a tática, e tampouco as máximas de seus defensores, que deveriam ser melhor observadas nestes tempos modernos.

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