segunda-feira, 30 de abril de 2012

Leiteiria - O primeiro passo e a História

Por Gilson Moura Junior

Fluminense e Internacional fizeram um jogo duro, difícil, no Beira-Rio. Tão difícil que a Leiteria passeou em plagas gaudérias a ponto de o destaque do jogo ter sido o goleiro menos acionado.

Cavalieri novamente mitou ao ser decisivo, ao decidir em batalha uma pequena vitória, ao defender um pênalti executado por Edinho, em uma tentativa de homícidio mal camuflada em plena área, e batido por Dátolo , aquele mesmo que nos visitou quando jogava no Boca, com a malícia confiante hermana. 

Contrariando o impossível, Cavalieri suavemente toca a bola e lança a esperança colorada na vala comum do urro primal do arquibaldo.

O "ÚUUUU" se ouviu nas muralhas da China.

A confiança bi-campeã da libertadores, naquela soberba novata dos recém entrados nos píncaros do gigantismo, mesmo assim permaneceu, mesmo tendo seu time acuado na maior parte do tempo, mesmo vendo nos pés cósmicos a vitória estar muito mais próxima, mesmo sabendo que enfrentarão nos palcos cariocas um Gigante que faz bastante tempo sabe jogar em seus domínios.

A frase do lateral-direito Nei, que considera vantagem para o Internacional jogar na casa do adversário, pois um gol torna o Colorado classificado, foi ecoada pela mídia, essa mesma que, muitas vezes carioca, prefere fingir que não nos vê.

E vamos para o segundo jogo, no Rio de Janeiro, onde perdemos o primeiro jogo por uma competição internacional em 27 anos há pouco menos de dois meses, com o favorito Internacional, o papa título Internacional, o mestre da paudurecencia copeira Internacional, na humilde residência alugada do engenhão, como franco-atiradores. Ao menos segundo Nei, segundo a mídia e segundo parte dos torcedores que fingem não ver o Fluminense.

Melhor assim. 

Assim como também é melhor que a História remonte 1971 para exigir um reparo moral ao Vovô, aquele cuja pipa não estava subindo mais e que reaparece a decidir depois de 41 anos um campeonato carioca.

Era preciso uma massagem cardíaca no vovô e muito me apraz que esta também eleve o Glorioso ao Status de Favorito da América, aos píncaros do mais belo time a jogar futebol na mui leal.

O papel de estar confortavelmente instalado na ponta da língua da antipatia popular e midiática não nos é novo, nem tampouco acre. Ao Fluminense não cabe ser a princesinha do baile, a vizinha que vem e que passa a caminho do mar deslindando-se sensualidades. Ao Fluminense não cabe a roupa titânica pré-moldada dos favoritos de prévia, queremos são os farrapos da glória, os retalhos da batalha vencida.

A faixa pré-carimbada nos causa ânsias, nos faz mal.

E vamos a duas decisões em três jogos nos próximas duas semanas. Nas duas não somos os preferidos ou os favoritos.

Ao Fluminense a desconfiança cai como Amok.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Campinho da Aldeia Velha - As lições que Cruijff dá


 Por Victor Freire

Meu último texto sobre Zé Teodoro no Santa Cruz acabou mexendo com as teias do destino, ou causando uma falha no código da Matrix: foi eu escrever para o dito cujo perder um jogo. Ganhou uma penca de outros, é verdade, mas continuou cometendo erros primários, que nos custou um clássico fácil contra uma coisa do mangue vinda de uma derrota vergonhosa para o Paysandu (para o Paysandu, porra!) e uma primeira partida de semifinal contra um Salgueiro de nível técnico fraquíssimo.

Zé Teodoro segue firme na sua decisão de continuar usando 3 zagueiros, 3 volantes e manter a postura do time recuada. Dando o devido desconto de quem acompanha os jogos do Santa de (muito) longe, a equipe parece raramente cruzar o território além da linha de meio campo, onde até mesmo os fracos podem ter vez, desde que tenham ousadia. O resultado é um time burocrático e até mesmo burro: quando ataca, o faz de forma desorganizada e não-efetiva. Quando defende, que deveria ser o seu forte (que remédio!), o faz de forma desorganizada também e aceita, complacentemente, um ataque adversário que seria facilmente evitado.

O comandante coral poderia tomar algumas lições com um jogador e técnico que, a meu ver, revolucionaram o futebol mundial: Hendrik Johannes Cruijff. Fala-se muito do carrossel holandês de 74 que encantou o mundo, mas suas raízes estão no Ajax de 69 a 73, vitorioso e campeão mundial de clubes em 72. Embora Cruijff tenha sido apenas jogador nesta época (o técnico era o também genial Rinus Michels), ele foi peça crucial na aplicação do sistema em campo, e repetiu a dose quando foi técnico.

Todo mundo fala de como os jogadores holandeses se dispunham em campo sem posições físicas, rodando e confundindo adversários, o que é uma definição simplória do que é, de fato, o futebol total. Desse jeito, parece que todo mundo joga na louca, de forma pior que futebol de zona rural. Poucos estudiosos (e não inventores, viu, seu Zé?) realmente pararam pra estudar o que de fato é este sistema tático: ele é simples, porém não simplório; proativo, mas não necessariamente atacante; de pressão, mas não displicente.

O sábio de Amsterdam dizia, de uma forma que considero muito correta: “O futebol simples é o mais bonito. Mas jogar simples é a coisa mais difícil”. É o que diferencia os verdadeiros gênios da tática de qualquer outro treinador. E um dos muitos sucessores espirituais de Cruijff no futebol catalão (onde este se estabelecera nos anos 80 e 90), Pep Guardiola, escreveu em 2007 a respeito do Barcelona, conhecido por aplicar um futebol parecido: “No Barcelona se entende que se pode vencer de mil maneiras. Todas são válidas. Todas funcionam. Não é preciso dizer muito mais que isso. Mas também se compreende que não se pode vencer e repetir o modo de vencer de uma forma que não parece certa pra você – e para os diretores, preparadores, jogadores, amigos e todos aqueles que vão assisti-los toda semana”.

O sistema de futebol total não é perfeito, no entanto. Beckenbauer e a Alemanha de 74 souberam como pará-lo, com uma marcação forte em cima daquele que era seu pivô. A evolução dele, o chamado "tiki-taka" espanhol, foi parado, ironicamente, pela marcação fortíssima do também alemão Bayern München. Isso, no entanto, não desmerece a tática, e tampouco as máximas de seus defensores, que deveriam ser melhor observadas nestes tempos modernos.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Leiteria - Rumo à irresistível vocação para a glória

Por Gilson Moura Junior

O Internacional é um dos mais tradicionais clubes do Brasil, isso não se discute, e amplia sua grandeza com suas duas libertadores e seu mundial.

O confronto de quarta-feira com o Internacional assanhou apocalípticos e integrados em debates intestinos da torcida tricolor ao ponto de dramas e dores e lágrimas chorarem por entre os mundos e fundos que compõe a cosmicidade.

"Porque tão cedo?" gritavam os apocalípticos. "Porque não? quem quer ser campeão tem de vencer a tudo" berravam integrados, otimistas e polianas.

O certo é que mais uma batalha se avizinha, o certo é que não há razão, nunca haverá ou houve nos passos que nos conduzem aos títulos.  O Fluminense tem à sua frente novamente a presença de monstros, leviatãs futebolísticos, fantasmas e horrores que śo heróis míticas podem superar.

Temer, racionalizar ou ufanar-nos de nossa, óbvia, grandeza não nos levará à Ela, na verdade o que nos levará a ter em mãos a obra de arte Libertada, construída do sangue de guerreiros, lutadores, Libertadores, é nossa irresistível vocação para a Glória.

Temos à frente Internacional, e se passarmos pro esta muralha , possivelmente Boca Juniors e quem sabe quem mais nos fará novamente ter, como em 2008, a árdua tarefa de a tudo vencer, de a tudo superar.

Em 2008 nossa arrogância em não ver nos Equatorianos adversários à altura nos custou o mais alto lugar do pódio, não podemos inverter a sensação e nos ocultar na pálida covardia dos tolos.

Nunca tememos os grandes, erramos sempre quando não enxergamos os humildes.

Temos à frente tudo o que o Fluminense precisa, guerras, apoteoses, dores, humores, sangue e força, tudo o que compõe o estandarte do mito que construímos há 112 anos.

O Internacional é um dos mais tradicionais clubes do Brasil, isso não se discute, como não deveria se discutir o gigantismo tricolor.

No Beira-Rio na Quarta-Feira, teremos mais um passo para a glória e não tenho dúvidas que o daremos com a necessária demonstração de força, não a ponto de calar os críticos, mas ao ponto de sussurrar o pavor de ver-nos finalmente conquistando  o que nos foi outrora negado, nos colocando acima das preferências clubísticas e amores ocultos.

No Beira-Rio, na Quarta-Feira, o Fluminense talvez relembre que o mundo não começou em 2006, quem sabe com um gol de Marcos Junior.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Leiteria - Pintou o campeão!

Por Gilson Moura Henrique Junior

Pintou o campeão!

Exato,é isso mesmo! Pintou o campeão!

Não, não tô maluco, não desandei, não bebi marafo e farelo, não comi gnomo. Pintou o campeão!

A Libertadores e o Fluminense nunca tiveram um longo caso de amor ou possuem laço formidável de segurança, ambos tateiam-se desde a década de 1970, com o fidalgo clube das Laranjeiras agindo mal com a moça em suas primeiras participações, pagando o mico de desprezá-la.

Em 2008 a punição veio a cavalo com um romântico e poético flerte que durou meses e ao final terminou em um toco cavalar, grosseiro até, onde a moça do auge de sua beleza nos negou a glória. 

Em 2011 uma nova e dura tentativa, meio tímida, com algum receio, terminou cedo, mas eis que estamos lá novamente e desta vez parece que o Fluminense se apresenta como é.

Novamente somos o melhor time da primeira fase, como em 2008, mas desta vez não vestimos o traje do favoritismo, inclusive somos anunciados pela mídia como um modesto melhor time da primeira fase, como um azarão que deu certo. Somos um time preguiçoso, um time qualquer.

E não, isso não é ruim, a Copa está aprendendo a nos conhecer, este clube estranho que suspira pelo gol no último minuto e pelo placar minimo desde que inicia seus passos no mundo da bola, logo ele que é o primogênito de um  de seus grandes centros.

Vamos devagar, devagar e fingindo preguiça, como quem não quer e ai ao bater o gongo da impossibilidade nos jogamos, como He-Man, e fazemos de peixinho, e surtamos, e  gritamos rodando os braços e somos isso, essa insanidade cardíaca.

O Fluminense não jogou o futebol que dele se espera, exceto quando precisou. O Fluminense nunca jogou o futebol que dele se espera, exceto quando precisou. Não só agora, sempre. O Fluminense de alguma forma espera o átimo de glória possível, até mesmo para amarrar o sapato enquanto olha a beleza da moça que vem e que passa a caminho do mar.

Para o Fluminense sem a glória, o limite e o impossível não se chupa nem um Chicabon.

E é chegada a hora de meninos se tornarem homens, são as oitavas, é o mata-mata. É chegada a hora do olho de tigre e mais, é chegada a hora do Fluminense, para a glória ou o mais profundo e dramático fracasso.

O roteiro aponta para a glória.



terça-feira, 17 de abril de 2012

Leiteria - Por uma arte Libertadora!

Futebol Arte é uma categoria estranha pra mim. Como zagueiro fui muito mais um amante de belíssimas e difíceis roubadas de bola, de carrinhos, de camisas rasgadas talvez de alguma violência leve do que de dribles e lançamentos.

Em meu blog anterior, sacrificado pra Nelson, inclusive havia criado a categoria de zagueirante, que é o amante do Futebol-Marte, aquele futebol criado em leite de onça com sangue de novilho virgem, ou de atacante adversário, dependendo da cultura.

De alguma forma a loucura do jogo sempre me foi mais importante do que a beleza dos passes e dribles, a pancadaria, o escorregar, o grito, o suar, a fúria, sempre foram muito mais ligados no meu padrão estético que dribles e passes. Não que não goste da arte, mas ela em si, ela estética, sem o furor do peso de um estádio rosnando, de pedras jogadas no batedor de escanteio, sempre me foi estéril.

Admiro quem curta a arte e sinta saudades de uma idade do ouro da bola, mas sinto  uma paixão enorme pelo futebol como um jogo onde perco a razão ao torcer e grito, e urro pela bola roubada, pelo gol feito meio entre uma mistura de bola roubada com contra ataque em velocidade, defesa bem postada e mortal. Sinto uma paixão enorme pela imensa presença do estádio na Libertadores, uma competição onde a organização é sim falha, mas antes de mais nada respira uma cultura de participação que não existe em outro lugar do mundo.Por isso o Barcelona me irrita, a Champions League me irrita.

O Barcelona me irrita por ser um belíssimo conjunto de uma arte tediosa e a Champions League me parece uma ópera esteticamente bela, com atores focados, mas falta o público, aquele simpático torcedor que está no campo com cada alvo de sua paixão.

Gosto do Futebol-Marte, construído em uma luta intestina à América e desenhado com o nome de guerreiros que venceram a metrópole Espanha e não com o nome de Copa dos Campeões. A arte do Futebol-Arte está ali, está presente no futebol do Deus da guerra, mas vestindo armaduras e diante de torcedores e não espectadores, de guerreiros do grito, auxiliares dos guerreiros da bola.

Obviamente não desprezo o futebol europeu ou sua técnica e nem acho que as pedras jogadas nos batedores de corner são coisas admiráveis, mas aprendi que elas existem e que a ausência delas não faz superior a estética operística, mantida até pelos patrocinadores, que a Champions League adotou como modelo. 

A Libertadores precisa se organizar, reduzir a violência e permitir a torcida, o grito, a fúria da  paixão gritada, que desorienta, mas não pode virar essa espécie de teatro que virou a Liga dos Campeões da Europa.

Que nossa arte não seja zagueirante, agradando completamente este ogro, eu aceito, mas que nossa arte respeite seu nome e seja Libertadora.

domingo, 15 de abril de 2012

Solucionática - Por Partes, Como Jack....

Por Lucas Morais

O futebol é realmente uma caixa de surpresas. Se a Terra gira uma vez a cada 24 horas, a bola gira milhares de vezes em 90 minutos.

Vamos por partes.


A derrota do Fluminense para o Boca Juniors veio no melhor momento, do melhor modo possível. Uma derrota para o gigante argentino que, sem Riquelme, mostrou ter time para disputar francamente o título sul-americano, enquanto o Fluminense mostra problemas no sistema defensivo, com os volantes errando muito, o que propiciou o primeiro gol do Boca e fez com que o próprio ataque finalizasse mal e trabalhasse mal a bola pela afobação. Fred e Thiago Neves foram facilmente anulados e, assim, coube a Deco e Nem a criação e a tentativa de fazer a diferença, que também foi anulada com muita qualidade. Digo que foi no melhor momento porque agora Abel sabe as potencialidades e limites de seu time, terá tempo para trabalhar e minimizar os problemas, enquanto precisa trabalhar mais a eficácia do ataque do time, que tem muita qualidade.

A eliminação precoce do Flamengo na Libertadores, após jogar como time grande contra o Lanús, vencendo em casa por 3 a 0, com Ronaldinho finalmente justificando que pode atuar efetivamente como um camisa 10 vez ou outra, foi espetacular. Apesar de estarmos falando da fase de grupos, foi esplêndido ver a crise finalmente tomar lugar na Gávea. Afinal, "Flamengo é Flamengo", mas não nesta noite. O Emelec mostrou garra de dar inveja a qualquer torcedor, de qualquer clube. Mesmo quando tudo parecia estar perdido, foram lá e, nos últimos minutos, arrancaram o gol da classificação, na raça. Foi desses "raros" momentos que, quando ocorrem, especialmente quando se vivencia, nos faz pensar "como o futebol é fantástico!".

Fantástico também será a Champions League nas próximas semanas. Sucinto e direto, acredito na final entre os madridistas e os culés. O Barcelona, apesar de já não estar no auge de seu futebol, tem time, filosofia, estratégia e armas para colocar o Chelsea na roda, em Londres, e talvez até arrancar uma diferença de um ou dois gols.

Já no outro jogo, o Real Madrid, que hoje é o virtual campeão da Liga das Estrelas, quebrou já seus recordes ofensivos e vão para esta fase final com sangue nos olhos, com os jogadores loucos para ganharem do arquirrival catalão, o Barça, tanto na Champions League quanto na Liga. O Bayern já perdeu todas as chances na Bundesliga, onde o Borússia Dortmund será campeão após ter ganhado do rival. E neste final de semana, novamente o gigante alemão obteve um resultado ruim, empatando com o Schalke e deixando Dortmund a uma vitória do título antecipado. Outro grande problema é que o coração da equipe se chama Schweinsteiger, meio campo, e vem de duas sérias contusões, o que fez com que perdesse seu brilhante ritmo. Isso entre outros problemas. O Bayern dificilmente terá condições de suportar a pressão do tridente madridista, Ronaldo-Benzema-Higuaín, caso joguem juntos. 

É o melhor ataque da história do Real. Com os gols deste sábado (14), Cristiano (41 gols), Higuaín (21) e Benzema (18) somam 80 dos 107 gols do Real Madrid e se tornam o trio mais goleador da história. A marca do ataque, aliás, iguala o recorde do time de 1989-90, que também marcou 107 vezes – ainda restam cinco rodadas neste ano pela Liga. Portanto, acredito que o Real de Mourinho é o favorito tanto para a Champions quanto para a Liga, mas o Barcelona pode estragar a festa, especialmente se Messi estiver inspirado. Afinal, em segundos o craque poderá incendiar a guerra nas quatro linhas, como costuma fazer. Aliás, Messi é o jogador que mais gols fez em Casillas, enquanto o jogador que este goleiro mais sofreu gols é também Messi. Curioso, não?


No italiano, Juventus e Milan disputarão ponto a ponto, com a tendência da invicta Juventus leve a taça, já que o Milan tem tropeçado. No inglês, tudo está aberto para os dois Manchester, enquanto os clubes londrinos brigam pelas vagas da Champions.

sábado, 14 de abril de 2012

Leiteria - E o Flamengo, quem diria, acabou no Emelec....

Por Gilson Moura Junior.

Antes de mais nada esse não se pretende um post desexaltação nem um post irônico, juro...

Demorei esses dias todos para escrever sobre Futebol para absorver alguns impactos pessoais e futebolísticos da semana e sem sombra de dúvida o evento eliminação do Flamengo foi um deles.

A derrota do Fluminense, comigo no estádio, foi imensamente dolorosa, por motivos mil, alguns deles foram que em meus 38 anos de vida pouco vi o Fluminense perder no estádio, a quebra da invencibilidade em jogos internacionais que durava longos 27 anos e a própria derrota em si, que como toda derrota dói pra diabo.

Além disso a fábrica de posts estava cansada, sonada e poética.

Mas a histórica eliminação do Flamengo da libertadores de 2012 não podia ser deixada  ao léo, sem uma nota sequer neste sitio que se pretende um anárquico porto seguro pra futeboleiros.

A vitória épica, bem jogada em campo, do esquadrão de Love e R10, era algo esperado, até porque muito estava em jogo, mas não foi páreo para a noite, onde a historicidade e dramaticidade do dia estavam ai pra isso, pra esculhambar o rame rame diário, essa vidinha de espetáculos esperados e profusões de milagres e "Flamengo é Flamengo" que em roteiro algum de nenhum outro criador, talvez nem dele, Nelson Rodrigues, se inscreveria como invenção meramente humana.

Não foi uma noite, foi um fato.

Não foram dois jogos, foram dois eventos que inclusive rediscutem na torcida rubro-negra a própria clássica soberba que lhes acompanham após o advento Zico. 

Mesmo a resistência ao perigoso terreno da galhofa onde os rivais nacionais inseriram o outrora garboso time da Gávea foi de uma timidez claudicante, eloquente e talvez um sinal dos tempos para o ufanismo à toda prova. Fora a clássica sacada do curriculum vitae, citação aos três rebaixamentos do Fluminense e aos rebaixamentos dos demais, clássicas e manjadas, o que se viu foi uma tristeza atroz.

Não minha, óbvio, mas de uma malta de pessoas cuja facilidade em esconder a realidade seguindo o berrante da Vênus Platinada com seus bordões ufanistas era quase um exemplo da tradição e um estudo de caso do impacto da mídia na alienação coletiva.

Nem a habitual arrogância duradoura se fez presente. 

O que se viu pode ser traduzido ou pela catatonia da dor da eliminação ou pelo surgimento de algum tipo de pensamento critico que tenha em mente entender o processo que levou à eliminação e que passa pela ausência de planejamento com demissão de técnico, pelo tratamento da libertadores como um sub-torneio, pelo acreditar em factoides com nome para a liderança técnica dentro de campo e pela fé inenarrável no folclore como arma de superação.

E é preciso ir além da crucificação dos Ronaldinhos, noitadas, bebidas e burrices de Papai Joel, é preciso entender como um clube é gerido por um sujeito que diz que Libertadores é ilusão e apresenta posteriormente um relatório onde diz que o clube perderá 7 milhões de reais por ter saído mais cedo do torneio.

Talvez seja a hora da Nação rubro-negra começar a entender que História todos os clubes grandes têm e na America do sul tem clube com  muito, mas muito mais história que o digníssimo rubro-negro, que Libertadores se joga com duas almas, que "não basta ter craque, tem de participar", que uma administração que aponta a camisa e Adriano como soluções para todas as crises só pode estar de sacanagem.

Citar os três rebaixamentos do Fluminense, o do Vasco, o do Botafogo, o numero de títulos é até legal como exercício de memória História, mas não muda o fato que há  tempos o Flamengo só pensa no carioca a sério, se apequena, despreza torneios importantes e hoje está eliminado da maior competição da América do Sul, competição que suou sangue para conquistar a classificação.

O que se vê, além de um momento divertidíssimo para os rivais, é um momento ímpar de reavaliação do que a torcida do Flamengo quer para o Flamengo, vê no Flamengo e entende do Flamengo e do futebol à sua volta. É um momento ímpar inclusive para atuação política transformadora que não dê bagagem a blogueiros pseudo-críticos que vive no surfe da mais imbecil rivalidade e sustentam um poder inexistente de equipes fracas, toscas e extremamente soberbas que envergam a camisa do Flamengo e fuja da armadilha de seguir a linha RMP de jornalismo oba oba e de veneno pros rivais.

Caso a torcida, a administração e o seguimento jornalístico próprio chamado Flapress achem por bem continuar achando que "Flamengo é Flamengo" eu acho até bom, mas não sei por quanto  tempo a marra se sustenta.

A noite teve a lida e hilária troca de situação para o Flamengo onde a alternância de gols misturava as expressões dos jogadores e torcida e que terminou em  um gol do Emelec que foi lindo, histórico e delicioso.

Enquanto isso vamos às oitavas, a gente se vê por ai.


Leiteria - Agora Falando Sério...

Por Gilson Moura Henrique Junior

Eu queria não falar... 

Assim começou a  quinta-feira tricolor. 

A quinta-feira dolorida por uma derrota possível, mas não esperada, foi marcada ainda pela soberba adversária, pelas frases recorrentes dos comentaristas do óbvio que repetem nas derrotas que "O Boca é muito mais tradicional que o Fluminense" o omitem nas derrotas que "O Boca Juniors não tem tido sorte contra o Fluminense".

A quinta-feira foi dolorida de ler até gente boa caindo na esparrela de sinal trocado ao comportar-se com o Fluminense da mesma forma que os que tratam o Lanus ou o Olímpia como Olarias. 

A vida é assim, feita de decepções e percalços.

A verdade é que fomos derrotados pelo Boca Juniors que jogou contra o Fluminense de verdade, dois times reais com seus erros e acertos reais, dois times que buscam ser campeões da libertadores e que lutam pela primeira posição da chave.

Em campo dois times que se esforçaram para superarem seu adversário e que teve no time argentino um time superior taticamente e inclusive tecnicamente ao Fluminense que apesar de ter entrado ativo e levando a sério o confronto, não estava bem tecnicamente e cometeu as mesmas falhas táticas que já vinha cometendo.

Em resumo? O Boca foi melhor. Não esperem análises táticas fluentes em estatiquês ou crucificações. Perde-se em copas e campeonatos e antes perder agora que nas oitavas, quartas ou finais.

E gostei do time, achei que sim foi bem diante de um perigoso adversário e que falhou no último passe e nas finalizações. Estamos caminhando, nem tanto ao mar, nem tanto à terra.

Agora é galgar mais um passo na direção da liderança, temos de vencer o Arsenal em Buenos aires.

É hora de falar sério, mas eu queria não falar...



quarta-feira, 11 de abril de 2012

Da Ideia Informa - Editorial - A morte e a morte nos direitos humanos

Por Gilson Moura Junior

Estamos em dias difíceis, como sempre houveram. 

Em todas as épocas questões graves perpassaram a luta entre conservadores e mudancistas, entre reformadores e inquisidores, entre bons e maus, entre vermelhos e azuis, entre gregos e troianos.

Acabo de saber que Tomas de Aquino e Santo Agostinho eram a favor do Aborto, e que a igreja em geral o apoiava na idade média. Acabo de ressaber que pastores evangélicos e padres católicos pedem uma infantil e cômica exoneração de um Ministro do Supremo Tribunal Federal, a mais alta corte do país, por este ter votado a favor da legalização do aborto de fetos anencéfalos.

Estamos diante de novas discussões e novas batalhas desta eterna luta entre um lado e outro que define como civilizadas suas questões e obscurantistas as do outro. 

Da mesma forma nesta semana o mesmo STF que se envolve em uma polêmica discussão sobre o aborto, mesmo que no caso focado na questão da anencefalia, também vai tratar da questão da lei da Anistia e da abertura dos arquivos da ditadura civil-militar que se iniciou pós-1964, e mais um pedaço da eterna luta se levantará, neste Fla x Flu que começou 40 minutos depois da existência.

Nestas épocas de binarismos e retorno ao Fla x Flu primordial é fundamental optar, levantar nossa volumosa bunda da cadeira e partir pra cima do adversário, dar-lhe um come desmoralizante e partir pro abraço em  um golaço trinunfalista.

E é por isso que o Da Idéia se  posiciona a favor da legalização do aborto de forma ampla, geral e irrestrita, assim como é a favor da revisão da ampla, geral e irrestrita anista para torturadores, assassinos, covardes e ladrões que no alto de uma coragem de almanaque nos agridem pela manutenção dos corpos dos desaparecidos na ditadura ainda ocultos.

É por isso que o Blog se posiciona a favor da ampla autonomia feminina na gestão de seu corpo, mesmo sendo uma besta quadrada na maioria das questões ligadas ao feminismo.

É preciso tocar essas bolas para o gol, para a ampliação da cidadania e para que nosso futebol, este velho e violento esporte bretão, se alinhe com a política e faça o time da liberdade campeão.

É preciso mais politica no futebol, a política que luta ao lado do avanço, a política representada em Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, nosso patrono não oficial, não aprisionado e que deu um drible filosófico ao nosso futebol e a luta pela democracia nas quatro linhas, nos vestiários, na abolição das concentrações.

Precisamos abolir escravaturas diariamente, em todas as épocas, em todos os planos, em todos os anos.

Precisamos jogar pra frente nessa luta. 

Precisando pra formar o time estamos ai.



domingo, 8 de abril de 2012

Solucionática - Atlético e Cruzeiro: sobre o primeiro clássico do ano


Lucas Morais

Os torcedores do Atlético não engoliram e nem engolirão tão cedo a goleada por 6 a 1, na última rodada do Campeonato Brasileiro de 2011, resultado que manteve o ameaçado Cruzeiro na Série A e, ainda por cima, humilhou seu arquirrival que, rodadas antes, havia goleado o Botafogo e se safado também do rebaixamento.

Campanha 100% no Campeonato Mineiro

Costumo dizer que o futebol do interior mineiro está 20 anos atrás do interior paulista. Times praticamente amadores, mal treinados, com baixa qualidade, sem estrutura, e por aí vai.

Para 2012, a diretoria atleticana fez contratações importantes, como o zagueiro Rafael Marques, o volante Leandro Donizete, o meia Escudero, emprestado por um ano, com opção de compra, junto ao Boca Juniors, o meia Danilinho, por empréstimo do Tigres-MEX, além de contar com o retorno do lateral-direito Marcos Rocha. Com isso, o time titular do Atlético seria: Renan Ribeiro; Marcos Rocha, Rafael Marques, Réver, Richarlyson, Pierre, Leandro Donizete; Escudero, Bernard, André e Guilherme.

Até o clássico, o Atlético venceu todos os dez jogos que fez no Estadual, além do jogo de ida contra o Cene, do Mato Grosso do Sul, pela Copa do Brasil. Em todos estes jogos, o Galo apresentou um padrão de jogo com muita velocidade, explorando tanto jogadas pelas laterais quanto pelo meio campo, valorizando a posse de bola e se defendendo com regularidade, mesmo que começando às vezes atrás no placar, como nos jogos contra o América de Teófilo Otoni e o Villa Nova, ambos fora de casa. Em termos de movimentação, o time largava na primeira marcha e não passava da segunda nos primeiros tempos das primeiras dez partidas, enquanto no segundo tempo, pela adversidade do placar e pela necessidade de pontuar, o time finalmente conseguia o resultado.

Até aí, nenhuma grande dificuldade, nenhum jogo que realmente colocasse o Galo na fogueira.

O clássico nas quatro linhas

Porém, no clássico, tanto Atlético quanto o Cruzeiro tiveram a oportunidade de medir forças. Com torcida única, na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas, o Galo foi para cima do Cruzeiro e, sobrando no primeiro tempo, com condições de ter goleado caso as finalizações não fossem tão ruins e os meias e atacantes não fossem tão fominhas na finalização. O time perdeu três oportunidades em que bastava o toque ao companheiro ao lado. Dito isto, afirmo que o time, caso continue bem treinado e faça contratações pontuais, estará "sobrando", pois deu mostras de que pode alcançar esta qualidade.

A vantagem veio quase ao final do primeiro tempo em 2 a 0. O Atlético jogava bem, tinha controle do jogo, impunha muitas dificuldades defensivas ao arquirrival. Porém, o resultado acabou fazendo com que o time ficasse, como ocorreu nos jogos anteriores, cômodo. O resultado de 2 a 0 era umas quase garantia que o adversário não ganharia e a situação na tabela estaria perfeita.

No segundo tempo, o Cruzeiro em dois contra-ataques, aproveitando-se de falhas defensivas, conseguiu empatar o jogo e até esboçou a virada, com o Atlético muito desorganizado durante todo o segundo tempo. A violência em campo entre os jogadores manchou mais uma vez o que deveria ser uma partida esportiva, disputada, mas leal. Jogadores do Cruzeiro, como Wellington Paulista, catimbando e atrapalhando o andamento da partida. Apesar das falhas da arbitragem, o jogo acabou sendo justo.

O Atlético tomou a virada para si mesmo, mais uma vez, e o Cruzeiro abusou de seu oportunismo para chegar ao resultado. Com este empate, o Atlético deverá ser o favorito para o título nas semifinais, mas há muita bola para rolar.

Ambos clubes precisam entender que, com os times deste jeito, terão dificuldades na Copa do Brasil e no Campeonato Brasileiro. Contratações são urgentes dos dois lados da lagoa, e a ausência de um estádio em Belo Horizonte tem atrapalhado muito o rendimento do futebol da capital. Esperemos que com a inauguração do novo estádio Independência as coisas comecem a mudar.

Os jogadores do Galo

Renan Ribeiro não tem ainda maturidade para ser o goleiro do Atlético; Marcos Rocha precisa ser trabalhado pois pode melhorar muito; Réver precisa minimizar ainda mais seus erros; Rafael Marques mostrou que tem qualidade para ser titular; Richarlyson ainda está muito fraco na lateral-esquerda, precisa melhorar muito; Pierre mostrou muita qualidade e raça, mas perdeu a cabeça no jogo; Fillipe Soutto pode melhorar muito, precisa ganhar mais chances; Bernard tem condições de se tornar um craque, precisa ser trabalho muito bem; Danilinho, apesar de ter feito o primeiro e participado do segundo gol, precisa mostrar muito mais serviço para honrar a camisa; André tem jogado muito displicente, precisa entender a responsabilidade de ser um atacante; Guilherme fez um primeiro tempo muito bom, mas sumiu no segundo tempo, precisa ser trabalhado e aprimorar suas finalizações, que foram displicentes. Escudero e Leandro Donizete já deram mostras de serem grandes jogadores e merecem a titularidade; Neto Berola precisa aprimorar a finalização, posicionamento e ritmo de jogo. Mancini poderá ser uma boa opção para quando o time estiver ganhando no segundo tempo, pois sabe ter controle. Que Cuca tenha inteligência para resolver este time, que tem muita qualidade, mas precisa de mais opções e eficácia.

A ficha do jogo:

ATLÉTICO 2 X 2 CRUZEIRO

ATLÉTICO
Renan Ribeiro; Marcos Rocha, Réver, Rafael Marques e Richarlyson; Pierre, Fillipe Soutto, Bernard (Neto Berola, 23min 2ºT) e Danilinho; André  (Mancini, 27min 2ºT) e Guilherme (Luiz Eduardo, 39min 2ºT). Técnico: Cuca

CRUZEIRO
Fábio, Marcos (Everton, intervalo), Leo, Victorino e Diego Renan; Leandro Guerreiro, Marcelo Oliveira e Montillo; Wellington Paulista (Walter, 29min 2º), Anselmo Ramon e Wallyson (Roger, intervalo). Técnico: Vagner Mancini

Motivo: penúltima rodada da primeira fase do Campeonato Mineiro
Estádio: Arena do Jacaré, em Sete Lagoas
Data: 8 de abril de 2012

Gols: Danilinho, 24min 1ºT; André, 38min 1ºT; Anselmo Ramon, 14min e 34min 2ºT

Árbitro: Renato Cardoso Conceição
Assistentes: Celso Luiz da Silva e Marconi Helbert Vieira

Pagantes: 17.724
Renda: R$ 325.240,00